O Slam das Minas é um movimento artístico-cultural e político que representa uma tentativa de criação de um espaço social de luta e resistência. Esta pesquisa se propõe a evidenciar o Slam das Minas como um movimento transgressor que questiona as epistemologias dominantes e contribui para a expansão de olhares descentralizados por meio de saberes e fazeres plurais, se constituindo, assim, como um movimento político necessário para refletir e procurar contribuir para uma sociedade mais justa e equânime. A dissertação se fundamenta na metodologia proposta por Chouliaraki e Fairclough (1999) para a Análise de Discurso Crítica (ADC) no contexto do movimento Slam das Minas, visando explorar como as poesias do Slam das Minas representam resistência política e resistência feminista negro, decolonial e interseccional, frente a sistemas de opressão. A partir de uma perspectiva decolonial e interseccional da Análise de Discurso Crítica, iremos analisar as redes de relações dadas entre as práticas sociais e as práticas discursivas que atravessam o movimento do Slam das Minas. Não obstante, objetiva-se investigar as redes de práticas em que as temáticas tratadas pelo Slam das Minas estão organizadas, de modo a identificar as materializações sobre o feminismo negro nas poesias projetadas; explanar, de modo dialético-crítico, sobre as relações das semioses projetadas pelo Slam das Minas com os outros elementos na prática em que está inserida, bem como as projeções de sentidos – dentro da ordem do discurso - referentes aos modelos culturais e as metáforas de resistência destacadas nas poesias; e problematizar o Slam das Minas como movimento social, artístico-cultural e político de resistência que visa ao combate e à denúncia da opressão sistêmica vivida por mulheres pretas, marginalizadas e periferizadas brasileiras. Inspirada em Acosta (2018), a pesquisa formula questões orientadoras que vão além da estrutura original do enquadre metodológico, aprofundando a investigação. O corpus consiste em sete poesias selecionadas do YouTube, do movimento Slam das Minas. A análise enfoca as metáforas de resistência presentes nas poesias, considerando suas relações com os modelos culturais, relações de poder e ideologia nos contextos sociais, assim, a pesquisa explora como as metáforas de resistência reagem e reescrevem práticas de opressão, mostrando a maneira pela qual essas poesias se inserem em estratégias políticas mais amplas. O estudo procura contribuir para a compreensão das vozes marginalizadas no cenário contemporâneo, demonstrando como a linguagem poética pode atuar como forma de resistência e construção de sensos de identificação.

Esta dissertação de mestrado versa sobre as cotas raciais e tem como objetivo geral analisar linguística e discursivamente como as cotas étnico-raciais são avaliadas como política de ação afirmativa. E como objetivos específicos, elencamos os seguintes: a) Identificar marcas de avaliação sobre o sistema de cotas e quais os efeitos sociais das escolhas linguísticas materializadas no corpus de análise; b) Identificar marcas de avaliação em relação aos estudantes cotistas e quais os efeitos sociais das escolhas linguísticas materializadas no corpus de análise; c) Investigar quais as ideologias que perpassam as escolhas linguísticas materializadas nos comentários no Twitter, a fim de discutir como as polarizações entre NÓSxELES influenciam na avaliação do sistema de cotas e dos cotistas.  É preciso explicar que as cotas sociais e raciais visam diminuir as desigualdades que perpassam diversas áreas e, como supramencionado, afeta também a educação.  Assim, em 2012, a lei nº 12.711 foi sancionada de forma a garantir o ingresso de estudantes PPI e de pessoas com deficiência nos cursos superiores das universidades e dos institutos federais do Brasil. Dito isso, esta pesquisa está pautada nos estudos da Análise Crítica do Discurso/Análise de Discurso Crítica, mais especificamente na abordagem dialético-relacional (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999; FAIRCLOUGH, 2003, 2009, 2019;) e no Sistema da Avaliatividade (MARTIN; WHITE, 2005). Para a abordagem sobre as cotas, amparamo-nos nos estudos da lei 12.711/12 e nos estudos de van Dijk (2017, 2021), mormente.  Quanto ao racismo,  buscamos os estudos de  hooks (2019); van Dijk (2015);  Ribeiro (2019) e Almeida (2019). E em relação ao corpus, ele está constituído por 105 comentários retirados, por meio de 72 capturas de telas, da rede social twitter. Por fim, acreditamos que essa pesquisa pode contribuir com práticas antirracistas, porque percebemos que há situações que demonstram como o racismo e as desigualdades sociais, econômicas e culturais persistem contra os negros na realidade mundial e brasileira.

O presente estudo se propõe a analisar as metáforas sobre gênero e sexualidade nas letras das canções presentes no álbum “Pajubá”, da artista Linn da Quebrada, por meio de uma perspectiva sócio-cognitiva. De forma a investigar se tais metáforas representam uma mudança paradigmática na forma como gênero é concebido sócio-cognitivamente, a pesquisa utiliza os preceitos da Teoria da Metáfora Conceptual (LAKOFF; JOHNSON; 2002[1980]). Além disso, lança mão de propostas de estudos da metáfora com enfoque discursivo, como a metáfora sistemática (CAMERON, 2010; CAMERON et al, 2012) e o nicho metafórico (VEREZA, 2007, 2010, 2012, 2013). O trabalho, de caráter interdisciplinar, alia as proposições dos estudos da metáfora aos estudos de gênero e da teoria queer (BUTLER, 2003) acenando para os estudos queer da linguagem (BORBA, 2018; MELO, 2020). As metáforas foram identificadas pelo método de leitura (SARDINHA, 2007), para posteriormente serem agrupadas e analisadas. A pesquisa revelou que as metáforas presentes no álbum Pajubá corroboram com o argumento da teoria queer de que o gênero é performativo (BUTLER, 2003), mostrando ainda o uso de tal ideia para a criação de novas possibilidades de ser e existir no mundo, utilizando a linguagem como ferramenta de resistência.

Este trabalho filia-se à teoria regida pelos estudos semânticos de base enunciativa, cujo pressuposto de análise volta-se à reflexão sobre a materialidade linguística percebida pelo olhar da Enunciação. Dessa forma, aspectos orgânicos e enunciativos são considerados na descrição dos fatos de linguagem. Abordamos nesta pesquisa, como corpus principal, as formações nominais (FNs) ‘mãe solteira’ e ‘casal gay’, a fim de buscarmos os potenciais de articulação que os nomes-núcleos e seus convergentes, pelo processo articulatório internominal, apresentam na relação com os referenciais históricos que os sustentam. Tivemos como objetivo, também, compreender quais razões enunciativas ancoram essas FNs, enquanto acontecimentos enunciativos. Para tanto, trabalhamos com uma coleta de dados, disponibilizados na mídia digital. Nossas buscas foram realizadas por meio do site de pesquisas Google, e tiveram como entrada as palavras-chave, escritas entre aspas, ‘mãe solteira’ e ‘casal gay’, que constituem, conforme perspectiva teórica à qual nos filiamos, formações nominais. Na sequência, realizamos a seleção e análises das ocorrências, procurando compreender, sobretudo, como se organizam os feixes de sentido arregimentados pelas FNs pesquisadas, em rede enunciativa com outras FNs, como: ‘mãe solo’; ‘pai solteiro’ ‘casamento gay; ‘orgulho gay’; ‘produção independente; ‘maternidade independente’; ‘mães empoderadas’; ‘empoderamento feminino’ e ‘família’. A partir disso, procuramos atingir o principal objetivo aqui proposto, a saber: investigar quais razões enunciativas sustentam o movimento de encapsulamento e dilatação referencial que o nome-núcleo realiza com seus convergentes na constituição das formações nominais. Nossos resultados nos possibilitaram perceber que o nome ‘mãe’, pelos mecanismos de dilatação e encapsulamento referencial, articula-se internominalmente com os convergentes ‘solteira’ e ‘solo’, em um embate próprio do linguístico, a fim de (re)significar os papeis sociais da mulher, em relação à maternidade, no cotidiano social. Por outro lado, concluímos que o substantivo ‘casal’, centro articulador da referência em ‘casal gay’, tem passado por um movimento de ampliação de seu domínio de sentido, por meio da agregação a si de um novo convergente – ‘gay’ -, em uma dinâmica enunciativa que nomeamos como dilatação referencial. Além disso, demonstramos como essas FNs são mobilizadas em rede e quais efeitos de sentido produzem, em interface com outras FNs, que fazem parte do mesmo domínio de significação.

Esta dissertação tem por objetivo investigar a obra um corpo negro (2019) de
Lubi Prates (1986), que traz o racismo vivenciado no cotidiano que transita
entre a ancestralidade e o silenciamento da voz do negro. Os versos prateanos
corporificam memórias individuais e coletivas em um espaço de
autorrepresentação, inscritos em formas de dizer sobre o corpo feminino negro
que está subjugado a representações estereotipadas e etnocêntrica,
construídas historicamente pela tradição cultural brasileira. Para este trabalho
foi utilizado o conceito de diáspora para explicar o processo de construção do
corpo negro na sociedade brasileira, o de interseccionalidade para auxiliar na
discussão do corpo através do gênero, da raça e da classe, e o conceito de
decolonialidade para engendrar na escrita contemporânea uma possibilidade
de denúncia e resistência. Para tanto, foi preciso adentrar nos processos
históricos e analisar a historiografia do corpo negro, exibindo as táticas criadas
com a intenção de camuflar a história africana e sua diáspora.

Este trabalho pretende investigar a obra A ocupação, terceiro romance do escritor
Julián Fuks, partindo de uma perspectiva de “ruínas” como sintoma de uma condição
sociocultural e como reflexo de um pensamento ontológico que se estrutura na
narrativa autoficcional. Na escrita de Fuks, as ruínas vêm na forma do fragmentado, do
rejeitado, do desconstruído, mas possuem também um caráter paradoxal engendrador
ou estetizante. As estratégias de subjetivação estão ligadas aos efeitos poéticos e
metafóricos do texto, e o que ele provoca e evoca na memória. No que concerne ao
narrador/personagem de Julián Fuks e a ideia das ruínas a ele atrelada, ideia que
inclui não somente as perspectivas do texto literário e da própria representação dessa
metáfora na narrativa, mas também a uma forma de ver o personagem como o
conjunto de fragmentos que se tornou o homem contemporâneo. Ou seja, ela não
deixa de ser resultado da modernidade sob o sujeito, e a forma como essa percepção
trespassa o real e o ficcional e vai além da própria concepção de identidade.
Sebastián, o protagonista e alter ego de Julián Fuks é um sujeito que não entende ou
encontra o seu local de pertencimento. Ele nasceu no Brasil durante o exílio dos pais
argentinos, mas retorna a Buenos Aires ainda criança. Em razão dessa confusão, vive
em um misto de identidades fragmentadas. Esse conflito vivido pelo personagem é
identificado pelo sociólogo e teórico cultural Stuart Hall com o conceito do sujeito pós-
moderno. O sujeito pós-moderno definido por Hall é profundamente influenciado pela
globalização e pelo deslocamento do sujeito no fenômeno das diásporas, que além de
divergências culturais, também é caracterizado fundamentalmente pela fluidez e
fragmentação da identidade.

O presente estudo encontra como ancoragem teórica os pressupostos desenvolvidos pela Semântica da Enunciação e tem por finalidade analisar como o silenciamento feminino se manifesta em discursos da e sobre a mulher. Busca, assim, traçar o percurso da construção moderna e ocidental da feminilidade, categorizar sob quais referenciais essa construção ocorre e analisar, linguisticamente, os efeitos de sentido desse silenciamento em diferentes lugares de dizer e momentos históricos-sociais. Face a isso, apresenta algumas categorias (mansplaining, manterrupting, bropriating e gaslighting) pelas quais esse silenciamento se materializa, observando como o domínio de mobilização, o espaço de enunciação e os referenciais históricos se articulam para sua sustentação dessas enunciações. A seleção do corpus da pesquisa foi realizada por meio de buscas de enunciados nas redes sociais Twitter, Instagram e Facebook, bem como no site de pesquisas Google, utilizando dois processos metodológicos, a saber: sondagem (GUIMARÃES, 2018; 2023) e redes enunciativas (DIAS, 2018). Utilizamos, ainda, a reescrituração, por recurso parafrástico, a fim de investigar o tensionamento entre o dito e o não-dito, visto que os nomes ‘silêncio’ e ‘silenciamento’ nem sempre apareceram de formas explícita em nosso corpus. Desse modo, nossa análise permitiu descrever em que medida o silenciamento participa do processo de significação dos papeis que a mulher desempenha no cotidiano social e como os referenciais históricos mobilizam ou desmobilizam esse silenciamento.

O presente trabalho aborda as imagens de leitor projetadas pelo livro didático Sentidos en Lengua Española 3, destinados a alunos do terceiro ano do Ensino Médio, a partir das sequências discursivas extraídas de atividades de interpretação textual e de comentários direcionados ao professor. Os principais teóricos que norteiam esta pesquisa são Michel Pêcheux (1997), que retrata os efeitos do discurso entre locutores e as formações imaginárias no jogo discursivo, e Eni Orlandi (1987), que retrata o discurso pedagógico autoritário. A análise nos permite ressaltar três projeções de imagens de leitor em que duas delas – aluno-leitor e professor-leitor – se constituem na contradição entre dois discursos distintos: um discurso de acordo com o qual o leitor é configurado como aquele que não tem a capacidade de interpretar, um leitor silenciado em sua interpretação; e outro discurso, segundo o qual o leitor efetivamente interpreta a partir de suas próprias determinações discursivas. Há, ainda, uma terceira projeção de imagem de leitor não vislumbrado em tal contradição – o autor-leitor – uma vez que ele se configura, na condição de imagem, como um leitor intérprete.

O corpo sempre foi território primeiro das relações de dominação e de controle dos
indivíduos. Nesta dissertação abordamos como essas perspectivas refletem direta e
indiretamente sobre o corpo queer nas estruturas das relações de (direito à) vida e de
morte ligadas ao poder e de como estes dispositivos de biopoder regulam a sexualidade
nos corpos dissidentes. Para tanto usaremos a obra literária “ O casulo Dandara”,
biografia póstuma da travesti Dandara Katheryn, morta aos 42 anos, no dia 15 de
fevereiro de 2017, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza (CE) nos utilizando das
contribuições de Michel Foucault e Judith Butler na construção da teoria queer.

A pesquisa se propõe a analisar onze pronunciamentos de Jair Messias Bolsonaro, proferidos entre 2004 e 2016, na Câmara dos Deputados, de modo a identificar como os pronunciamentos do então parlamentar significam o período da ditadura militar brasileira (1964-1985). Os pronunciamentos selecionados foram analisados com base na elaboração de Laclau (2013) e Morais (2019) acerca da divisão do campo social em dois polos antagônicos, e na indicação de Pêcheux acerca do discurso político como um “representante exemplar de diversos tipos de processos discursivos” (PÊCHEUX, 1997a, p. 77), sendo um espaço marcado pela disputa pelos significados (PÊCHEUX, 2014b). A análise nos permitiu apontar que os pronunciamentos de Bolsonaro são caracterizados não apenas pela dicotomização do espaço social (LACLAU, 2013), constitutiva da forma de discurso político que propusemos, dividindo a sociedade em dois polos em relação de oposição, mas também pela lógica militar da guerra ao inimigo interno (ANDRADE, 2019). A análise indicou, ainda, que a ditadura militar desponta como uma revolução em contraponto a uma suposta ameaça comunista.

Palavras-chave: Ditadura militar. Análise do Discurso. Discurso político.

Ainda incipientes em pesquisas no campo da Análise do Discurso (AD) Francesa, narrativas de vida (BEARTEAUX, 2010; MACHADO, 2009-2016; CARVALHO, 2016) se constituem como nova materialidade discursiva (MACHADO, 2016). Neste trabalho, delimita-se o estudo dessas novas materialidades aos discursos de sete migrantes de crise (BAENINGER E PERES, 2017; CLOCHARD, 2007) em imersão no Brasil, sobretudo no que tange à aprendizagem de português, por serem estudantes de Português Língua de Acolhimento (PLAc) em uma instituição de ensino superior de Minas Gerais (MG). Destarte, pela compreensão do discurso como efeito de sentido entre locutores (PÊCHEUX, 1969), para a análise das narrativas de vida desses migrantes, parte-se de uma articulação entre alguns conceitos da AD Francesa – notadamente aqueles fundamentados por Michel Pêcheux (1969, 1975), tais como o supracitado conceito de discurso, condições de produção do discurso e formações imaginárias – e pressupostos atuais relacionados à migração de crise no Brasil, dentre os quais: o discurso da falta (DINIZ E NEVES, 2018), o discurso da obrigatoriedade da aprendizagem de português (GASPARINI E LIMA, 2020; LOPEZ, 2016, 2018, 2020a, 2020b; MIRANDA, 2021), o questionamento acerca do acolhimento do migrante – especificamente no que diz respeito ao PLAc, – práticas assimilacionistas (ANUNCIAÇÃO, 2018), a demonização do migrante (GALVÃO, 2019), bem como sua essencialização e totalização (LOPEZ E MIRANDA, 2019; MAHER, 2007), categorizações que culminam na sua invizibilização (DINIZ E NEVES, 2018), silenciamento (ANUNCIAÇÃO, 2018), vulnerabilidade (SÃO BERNARDO, 2016) e desamparo (AMADO, 2013; LOPEZ, 2016). Os resultados apontam para uma relação de (des)amparo do migrante a partir da (não) aprendizagem da língua portuguesa, alusiva também às imagens que o sujeito migrante projeta de si, do outro e do lugar que o português ocupa em seu discurso. A sala de aula de PLAc, ambiente intercultural por essência, é projetada pelo migrante como lugar para além da aprendizagem da língua. Lugar da interculturalidade (MAHER, 2007), a sala de aula de PLAc é configurada, no discurso dos migrantes, como espaço de interação social, amparando e acolhendo o migrante, sendo o professor imaginado como aquele que realmente os ampara e os acolhe. Já em consideração a demais lugares do entorno, há a ilusão e/ou refutação da imagem de acolhimento. Em algumas narrativas analisadas ocorrem contradições nos discursos, de forma velada e a despeito da consciência do sujeito migrante, os quais desvelam o discurso da falta e o não acolhimento por parte do brasileiro, diferentemente do que se promulga internacionalmente acerca do Brasil como um país acolhedor de migrantes. Essas ponderações reiteram a correlação entre narrativas de vida do sujeito e os discursos que se constituem/são constituídos ao longo da história, por essa razão: narrativas e(m) discurso.

Este trabalho tem como recorte de análise um documento de caráter normativo parametrizador da educação brasileira, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cuja sustentação teórica está alicerçada, conforme o próprio documento, em uma perspectiva enunciativo-discursiva da linguagem.  Com efeito, esta pesquisa pretende verificar como esse pressuposto teórico é sustentado pela BNCC. Além disso, propõe uma investigação sobre os contornos assumidos pelos conceitos de enunciado e texto no documento. Desse modo, na esteira do que é proposto pela Base Nacional, este trabalho problematiza em que medida o viés enunciativo apresentado contribui para a organização sistematizada das ações pedagógicas, nos estudos de Língua, considerando que, conforme se apresenta um conceito, toda a prática a posteriori deve estar correlacionada aos fundamentos que tal definição estabelece. Para tanto, esta análise se ancora nos pressupostos teóricos estabelecidos pela Semântica da Enunciação, mas realiza, também, um olhar panorâmico sobre distintas teorias enunciativas, a fim de validar a tese de que a BNCC realiza um entrecruzamento entre tais teorias, não assumindo, portanto, um olhar uniforme sobre a ideia de Enunciação.  Uma vez apresentada essa validação, como resultado das análises realizadas, é desenvolvida uma proposta de transposição didática de atividades de análise linguística, orientada por pressupostos da Semântica da Enunciação, com o objetivo de sistematizar procedimentos teórico-prático-metodológicos que sustentem uma dinâmica semântico-enunciativa do trabalho pedagógico.

Este trabalho tem como objetivo o estudo do romance A noite das mulheres cantoras, da escritora portuguesa Lídia Jorge. Na obra que narra sobre a criação e fim da banda ApósCalipso no final da década de 1980, observamos que ao contar sobre a sua vida e das outras quatro integrantes desse projeto musical, a narradora Solange de Matos dialoga com a história recente de Portugal, em especial com a questão do regresso dos colonos que vivam em África e retornam ao país entre 1974 e 1979 com a independência das antigas Colônias. Na narrativa somos guiados por Solange que depois de mais de vinte anos sente a necessidade de relatar os acontecimentos de sua juventude, de desencantar a versão do passado apresentado por Gisela Batista, a maestrina, em um programa televisivo. O leitor tem acesso, assim, às interpretações de Solange sobre o passado, em uma narrativa organizada de modo a desmascarar Gisela e expiar o seu envolvimento na morte de Madalena Micaia. Com o relato de Solange temos acesso a uma perspectiva íntima do regresso, que contempla uma “realidade” que a narrativa criada pelo Estado ignora. Assim, pretendemos com a fundamentação teórica de Benjamin (1987; 2018) e Gabnebin (2018) analisar essa narradora que relata pequenos acontecimentos, que narra movida pela vontade de não deixar nada se perder, e que ao fazê-lo testemunha sobre um tempo, um povo. Para estudarmos a construção dessa narrativa sobre a memória de um período temos como aporte teórico Pollak (1989;1992) e Halbwachs (2203) e seus ensinamentos sobre memória individual e coletiva, bem como essas influenciam na construção das narrativas de identidades. 

Esta pesquisa investiga a poética transpassada pela ideia de resistência em nosso conturbado contexto, utilizando como norte o cruzamento potente entre a escrita do professor/poeta/crítico Alberto Pucheu e do poeta/professor/advogado Carlos Assumpção, sendo o último considerado um dos decanos da literatura afro-brasileira. As obras utilizadas são: para que poetas em tempos de terrorismos? de Pucheu, publicada em 2017 e Não pararei de gritar, de Carlos Assumpção, publicada em 2020. O filme Carlos de Assumpção: protesto, produzido por Pucheu, também é basilar na construção desta pesquisa. No que tange a inscrição do trabalho em nosso tempo, abriremos um panorama da contemporaneidade, explicitando suas marcas estéticas e sociais. O estudo expõe as dinâmicas das identidades e busca os paradoxos existentes no que a poética pode construir sobre os sentidos nacionais, especialmente em momentos de crise. Pretende-se analisar de que maneiras a poesia assume sua função política atualmente, em especial através das palavras - implícitas e explícitas - dos autores e teóricos estudados, considerando também as ações para além de apenas palavras. Sem medo de adentrar aos chamados ‘’lugares-comuns’’ e levando em conta o esgotamento das ideias de originalidade que se manifestavam através de obras primas clássicas, intento ouvir o cotidiano conturbado de uma nação com disparidades sociais gigantescas, mas que possui em si imensa profundidade de manifestações culturais e uma língua afiada para se narrar-questionar-protestar. Recuperar as histórias de extermínios é uma forma de escancarar suas dores e, quem sabe, reparar ainda seus efeitos. Sobreviver para além das palavras é hoje uma questão no centro da política da vida.

La furia y otros cuentos é o terceiro livro da escritora argentina Silvina Ocampo, publicado em 1959 pela editora Sur. A obra possui 34 contos que, de diversas formas, inserem o insólito no cotidiano, por meio de personagens, narradores e ambientes pouco convencionais para a época da autora. O objetivo desta dissertação é verificar se alguns contos desse livro podem indicar um enquadramento literário para Ocampo como pertencente à literatura fantástica, ao realismo maravilhoso e/ou com traços do surrealismo; ou, ainda, expressar um novo gênero. A metodologia a ser utilizada será a pesquisa bibliográfica, pautando-me no método critico-analítico. Para tanto, partirei da construção do perfil biográfico e literário de Silvina, com os estudos de Enriquez (2018), Ulla (2014), Fernández (2017) e Sousa (2017), para depois discutir o fantástico, o realismo maravilhoso e o surrealismo, a partir de Roas (2014), Todorov (2017), Chiampi (2015), Rodrigues (1988; 2003), Paz (1974) e Choza (2011), entre outros. Com essas leituras, serão abordados os recursos frequentemente empregados pelos gêneros em tela, como o estranho (FREUD, 1976), o duplo (RANK, 2013; FREUD, 1976; HOGLE, 2005; BOTTING, 2002), o real/irreal (ROSSET, 2008) e o abjeto (KRISTEVA, 1982; SPOONER e MCEVOY, 2007). Ao final, sugiro um enquadramento literário para Ocampo, através da análise e levantamento de estratégias narrativas exploradas pela escritora, bem como discuto um possível diálogo intertextual dos textos com a tradição literária (GILBERT, GUBAR, 2000; WOOLF, 2014) e as marcas individuais da escrita de Silvina Ocampo (KLINGENBERG, ZULLO-RUIZ, 2016; ELIOT, 1919).

Esta dissertação se propõe a investigar o processo de construção identitária e as possibilidades de empoderamento e agenciamento da personagem Tituba no romance metaficcional Eu Tituba: bruxa negra de Salem, da escritora Maryse Condé. Para alcançar os objetivos propostos, analiso as estratégias narrativas utilizadas pela escritora com o objetivo de revisitar a história de Tituba e ressignificar os silêncios e lacunas presentes na história dessa mulher e, assim, possibilitar a desconstrução de imagens estereotipadas, bem como a reescrita de acontecimentos históricos tidos como hegemônicos sob a ótica dos sujeitos subalternizados. Também descrevo aspectos relativos à história de Tituba e ao obscuro período da caça às bruxas como forma de contextualizar o ambiente persecutório da época. Examino ainda a diáspora e o devir em trânsito vivenciados pela personagem, bem como os contínuos deslocamentos por diferentes espaços afetivos, discursivos, geográficos e identitários que levam a transformações em sua subjetividade e tornam a identidade de Tituba múltipla e fragmentada; isso a caracteriza como uma mulher deslocada e desenraizada. Para o desenvolvimento desta análise, busquei me basear nas reflexões de intelectuais de diferentes origens. Esses textos teóricos, bem como as diferentes teorias utilizadas, foram cruciais para iluminar a obra de Condé e refletir sobre como o colonialismo, a mobilidade e os deslocamentos marcam a trajetória da protagonista do romance.

As narrativas que elegeram Portugal como comunidade imaginada levaram em conta a concepção do país como império, que contava com colônias em diferentes continentes, assim a literatura desempenhou um importante papel enquanto cultura nacional. Porém, na contemporaneidade, a literatura portuguesa apresenta-se como possibilidade de revisitação à memória e se abre para as novas demandas do mundo globalizado. Diante disso, esta dissertação realiza um estudo do romance O vento assobiando nas gruas (2002), de Lídia Jorge. Procura-se refletir sobre a nação portuguesa a partir do diálogo entre algumas das vozes que a compõe no cenário pós Revolução dos Cravos, tendo como foco a protagonista Milene Leandro, sua oligofrenia, seu corpo mutilado e a proximidade com os Mata, família de cabo-verdianos em Portugal. Com base em reflexões sobre a nação moderna e o contemporâneo, principalmente em Homi Bhabha (1998), e acerca das especificações de identidade, colonialismo e pós-colonialismo portugueses, em textos de Eduardo Lourenço (1999, 2001 e 2014) e Boaventura de Sousa Santos (1994, 1999, 2003), bem como de pressupostos da decolonialidade, em Walter Mignolo (2017), intentamos pensar o imaginário nacional português. Além disso, discutiremos a violência contra o corpo da protagonista como metáfora de uma nação que transita entre o desejo de resguardar a memória coletiva e as exigências do contexto contemporâneo.

Esta dissertação realiza uma leitura do romance A casa velha das margens, de Arnaldo Santos. Procura-se refletir sobre os embates culturais travados no decorrer da narrativa, tendo como foco os deslocamentos e travessias do protagonista Emídio Mendonça. Com base no conceito de mímica formulado por Homi Bhabha (1998), destaca-se a posição ambígua do personagem principal. Ao introjetar uma visão negativa de si mesmo – visão reiterada pelo discurso do colonizador –, Emídio passa a desejar o lugar do branco europeu. Devido ao processo de imposição cultural, ele já não é mais angolano, tampouco português. A partir da figura de Antônio Mendonça, discorremos sobre as especificidades do colonialismo português, que ora apresenta a assertividade e a segregação de Próspero (colonizador), ora assume características de Caliban (colonizado). Exploramos, por fim, os embates travados entre a cultura oral e escrita para alcançar reconhecimento. Para desenvolver nossa reflexão, associamos as mucandas (cartas) ambaquistas à imagem de ruína; imagem esta apresentada por Walter Benjamin em seus estudos.

A presente dissertação é o resultado de uma pesquisa desenvolvida durante o período de 2018-2020 no Programa de Mestrado em Letras da Universidade Federal de São João delRei acerca das fake news. O problema de pesquisa abordado é constituído pela descrição superficial que a mídia jornalística faz das fake news, considerando fenômenos diferentes como se fossem um único processo. Consequentemente, isto resulta em análises e interpretações de fake news sem critérios enunciativos bem definidos e claros, sendo os jornais os principais responsáveis por essa não caracterização, visto que não explicam seu(s) critério(s) na nomeação de uma enunciação enquanto fake news. O que as atuais fake news evidenciam é o processo alteritário apoiado em um pathos que se forma entre sujeito-enunciador e sujeito-interlocutor, o que nos possibilita analisar o fenômeno das fake news à luz das discussões do Círculo de Bakhtin, sob uma perspectiva dialético-dialógica.
Assim, esse trabalho se justifica em virtude da descrição jornalística pouco criteriosa dos enunciados-fake-news ter possibilitado, como analisamos nessa dissertação, que sujeitoscandidatos-à-presidência-do-Brasil se colocassem no lugar de sujeito-jornalista para emularem uma informação falsa enquanto verdadeira. Logo, o objetivo nesta dissertação é analisar, a partir da filosofia da linguagem do Círculo de Bakhtin, especialmente, sob o prisma da pravda e istina, os processos responsivos pelos quais os sujeitos candidatos à presidência do Brasil emularam enunciados-fake-news nas eleições de 2018. Metodologicamente, no escopo da campanha política de 2018, recortamos os enunciados de dois sujeitos-candidatos, em dois acontecimentos diferentes, sendo que ambos foram noticiados pelos meios jornalísticos como sendo fake news. Além disso, a fim de descrever e interpretar o processo enunciativo dos sujeitos-candidatos que criam esses enunciadosfakes, estabelecemos três critérios para definir as fake news e separá-las de outros processos enunciativos. Com relação ao aporte teórico, partimos de Bakhtin e do Círculo de Bakhtin para estabelecermos diálogo com outras teorias de linguagem, como Roxo e Melo (2018) e Alcott e Gentzkow (2017). Esse diálogo nos levou a assumir a fake news, no escopo dos objetos analisados, enquanto um processo de emulação de um enunciado
intencionalmente falso, verificável e com propósito de enganar o eleitor enquanto gêneronotícia. O resultado final das análises evidenciou, com base nos critérios supracitados e em um dos objetivos específicos, que em apenas um dos eventos analisados houve, de fato, a enunciação de uma fake news, sendo que o outro evento não apresenta as mesmas características enunciativas.

O presente estudo se ancora nos pressupostos teóricos da Semântica da Enunciação, e traz para o centro das discussões o conceito de formação nominal e de enunciado, uma vez que essa abordagem investigativa trabalha com os diferentes sentidos, provenientes das mais diversas ocorrências de escrita, no caso deste trabalho, articulados materialmente em um extrato de língua; isto é, ao entrar em enunciação, as construções linguísticas estabelecem relações que determinam seus efeitos de sentido. Nessa direção, o recorte desta pesquisa se pauta nos seguintes questionamentos, que foram fundamentais para a delimitação do objetivo geral aqui definido: em quais perspectivas referenciais se ancoram as formações nominais (doravante FN) que constituem os dizeres sobre o corpo gordo feminino, e que efeitos de sentido essas FNs produzem para além da arquitetura material do enunciado? Em termos mais abrangentes, nosso objetivo principal consiste em investigar os diferentes efeitos de sentido, advindos das formações nominais que constituem os enunciados sobre o corpo feminino, observando como os traços histórico-sociais atuam na enunciação dessas formas e constituem a representação desse corpo. Face a isto, procuramos analisar os movimentos enunciativos de construção de sentidos acerca do corpo feminino, tendo em vista o referencial temático da beleza, as perspectivas referenciais, o funcionamento da negação e as direções argumentativas que balizam e reescrevem esse corpo. A seleção do corpus da pesquisa foi realizada por meio de buscas na plataforma Google, utilizando do processo metodológico das redes enunciativas (DIAS, 2018). Desse modo, nossa análise nos permitiu constatar que ao construirmos um contínuo de significação, que buscou rastrear os efeitos de sentido das FNs que reescrevem o corpo feminino, o corpus utilizado exigiu um movimento de interpretação dos enunciados que, uma vez acionado na enunciação, mobilizou sentidos e dizeres distintos sobre o corpo. Esse movimento, por sua vez, articulado ao processo de reescrituração, oferece uma orientação de sentido que argumenta um olhar menos opressor à representação do corpo feminino, que, nos dias atuais, habita o referencial da beleza em uma perspectiva do bem-estar. No que tange o processo de negação, este sustenta, em interface com sua contraparte afirmativa, a orientação argumentativa sobre o corpo feminino e os dois procedimentos de dizer, negação e afirmação, oferecem-se, em combate, como mecanismos de busca de pertencimento social para esse corpo.

O objeto de investigação desta dissertação é composto por dezessete fotografias de mulheres que apresentam hematomas pelo corpo. Essas mulheres seguram cartazes nos quais estão escritos versos musicais, que, por sua vez, retratam a agressão física que sofreram. As fotografias foram utilizadas na campanha Música: uma construção de gêneros, realizada pela Secretaria de Políticas para Mulheres, na cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. O objetivo da pesquisa foi fazer uma análise multimodal do conteúdo imagético relacionado ao conteúdo verbal e, assim, verificar os discursos que emergem, que são (des)construídos, que são (re)articulados e legitimados. A Gramática do Design Visual, de Kress e Van Leeuwen (2006), embasou as análises das fotografias, com uma abordagem multimodal. Para a análise textual, foi empregada a Análise Crítica do Discurso, de Fairclough (2001), com o uso das categorias Intertextualidade e Interdiscursividade e, por fim, a Análise Crítica Musical, amparada pela perspectiva de van Leeuwen (2012) e pela teoria francesa com foco no enunciador musical, completa o referencial teórico deste trabalho. Após esta investigação, concluiu-se que, no contexto musical da campanha, a ação descortina os variados discursos machistas, sexistas e as violências de gêneros que passam despercebidos aos ouvidos de muitas pessoas. Isso acontece devido aos artefatos musicais que disfarçam as relações de poder ali presentes, escondem a brutalidade da violência contra a mulher e funcionam como um despiste ideológico. A iniciativa da campanha conseguiu alertar a sociedade — ainda patriarcal — sobre a perpetuação e a naturalização de tais discursos e como estes podem influenciar as ações do indivíduo.

Devido às novas significações da palavra vadia, com sentidos de valoração da mulher, surgidas
a partir da Marcha das Vadias, em edições que ocorreram de 2011 a 2018 aqui no Brasil,
elegemos a nomeação ‘vadia’ como objeto de estudo. Nosso aporte teórico para esse estudo são
os pressupostos apresentados pela Semântica da Enunciação. Por carregar em si produções de
sentidos distintos e, por vezes, opostas, a depender do espaço enunciativo no qual se encontra,
a palavra ‘vadia’ é profícua para a percepção do político operando na língua. Assim, em termos
mais abrangentes, nosso objetivo principal é a reflexão sobre os agenciamentos enunciativos,
configurados politicamente, que são realizados, a fim de que ocorra a (re)significação dessa
palavra. Para desenvolver a análise a que nos propomos, buscamos, inicialmente, por textos que
discutem a história da mulher. A seguir, elaboramos o corpus da pesquisa por meio de entradas
de busca nas plataformas Google, Twitter e YouTube, à procura de referenciais históricos que
ancoram a regularização do sentido pejorativo da palavra vadia, combatido pela marcha, assim
como enunciados que constroem um novo referencial, o da liberdade da mulher. E, por fim,
apresentamos os movimentos de sentido acerca da representação social da mulher, apontada
pela significação de liberdade reescrita em vadia, ou seja, analisamos o político operando
na/pela língua através do sujeito político.

Esta dissertação compreende o estudo do livro Jantar Secreto (2016), de Raphael
Montes, que tem como temática central o canibalismo. Com este texto, buscou-se
estabelecer associações entre trechos da obra com o mundo real contemporâneo
que alimenta essa narrativa carregada de elementos hiperbólicos, que se revelam
através do suspense, do horror e do grotesco. Surgiu assim, a necessidade de
estabelecer paralelos da narrativa do autor com as produções literárias de Rubem
Fonseca, o que evidenciou a forte influência deste escritor sobre Montes,
principalmente em contos como Anjos das Marquises do livro Confraria dos
Espadas (1986) e Nau Catrineta da obra Feliz Ano Novo (1975). Traçou-se
também um panorama da Antropofagia no Brasil, desde seu aspecto histórico-
cultural com os indígenas e o Movimento Antropofágico, passando pela literatura,
até o canibalismo de hoje, que cumpre um papel de crítica e denúncia nas artes,
além de alertar sobre os males da desigualdade social forjada em solo brasileiro
desde a colonização. Verificou-se que alguns elementos da ficção literária como o
canibalismo, o tráfico de órgãos e a desigualdade social que produz situações
violentas, também estão presentes na vida real, caracterizada pelo mal-estar pós-
moderno decorrente de sistemas neoliberais, que promovem a necropolítica. Por
fim, mostrou-se como o tema canibalismo está presente nas mais diversas
expressões artísticas, o que evidencia uma sociedade que se interessa cada vez
mais pelo assunto, que pode ganhar diferentes significados devido à subjetividade
do artista/escritor, mas na maioria das vezes possui um viés crítico nos âmbitos
literário, social e político.

Neste trabalho intenta-se levantar uma proposta de leitura – e sua justificativa – da obra de Lima Barreto como produções autoficcionais. Motivada pela percepção da recepção crítica de sua obra, a análise em questão propõe percurso investigativo que perpasse os estudos acerca da loucura, sob um olhar comparativo entre os pensamentos filosóficos humanistas e iluministas; das escritas de si, sob a consideração de que seja a elas inerente um processo de ficcionalização do eu; e da autoficção, refletindo, a partir das compreensões de seus conceitos, nas possibilidades de categorização das obras aqui analisadas. Os textos literários trazidos aqui como objeto de estudo são Diário do Hospício (2017) e Cemitério dos vivos (2017), ambas as obras escritas por Lima Barreto nos períodos durante os quais o autor foi internado no Hospital de Alienados do Rio de Janeiro, sob o diagnóstico de alucinações advindas do alcoolismo.

Esta dissertação, ao abordar a Base Nacional Comum Curricular - BNCC como discurso, baseada na relação língua-ideologia, caminha na direção de mostrar como o próprio texto do documento engendra efeitos de sentido sobre a BNCC e sobre a educação. Em outras palavras, contribui-se para a consideração de que o discurso intervém no real e constitui a realidade. O objetivo geral gira em torno de compreender os efeitos de sentido sobre a Base Nacional Comum Curricular engendrados no/pelo texto da própria BNCC (2018) em sua relação com a significação da educação. Para perscrutar tais efeitos de sentido, utiliza-se como aporte teórico-metodológico a Análise do Discurso (AD) de Michel Pêcheux, em especial a consideração de Pêcheux em AAD – 69, em que o autor enuncia que discurso não se trata de mera transmissão de informação entre os locutores sobre o referente, mas efeitos de sentidos entre locutores. Juntamente com Pêcheux, traz-se considerações sobre a razão neoliberal e a economização (DARDOT; LAVAL, 2016. LAVAL, 2019. ANDRADE, 2019) para auxiliar na compreensão da significação da educação. Para a investigação, elege-se como objeto da pesquisa o texto da Base Nacional Comum Curricular (2018), homologado pelo então ministro Rossieli Soares da Silva, sendo a versão final já contendo a etapa do Ensino Médio, passando a Base a abranger toda a educação básica brasileira. No empreendimento do estudo foram identificadas sequências discursivas no texto do documento. Tais sequências foram avaliadas num movimento entre a descrição da materialidade linguística e a interpretação. A análise indicou a instituição de um efeito de verdade para a BNCC como qualidade educacional por meio do que se denominou discurso autoritário, à medida em que busca o controle dos sentidos. Além disso, identificou-se a instauração de uma contradição aparente entre homogeneidade e heterogeneidade. O termo aparente refere-se ao fato de que a despeito de um apelo à heterogeneidade e à diversidade, prevalece no documento um efeito homogeneizante de cerceamento ao diverso. Contribui-se assim para um efeito de centralização curricular, corroborando os efeitos de sentido de BNCC – definição das aprendizagens essenciais – como sinônimo de igualdade educacional e BNCC como forma de superação dos “problemas” na educação. Esses efeitos de sentido sobre a BNCC também significam a educação de modo a resumi-la apenas como a própria BNCC. Como discurso, a BNCC, em sua relação à razão neoliberal, intervém no real e constitui ambas, educação de qualidade e igualdade educacional no país, apenas como a própria BNCC num processo de economização da educação.

O presente estudo tem como tema o discurso de ódio em contraposição com a liberdade de expressão sobre a Análise do Discurso Jurídico e o caso dos quilombolas que ocorreu com o até então deputado federal Jair Messias Bolsonaro, atual presidente da República no Brasil. Esta tese de mestrado busca retratar a estrutura do discurso e como foi inocentado perante uma frase e expressão claramente xenofóbica e racista emanada pelo deputado que foi entendido se tratar de um discurso que não foi dotado de crime por estar em campanha política e que não fosse possível manter uma condenação neste sentido. Diversos questionamentos surgem dentro dessa constituição de análise do discurso e, por essa razão, o desenvolvimento desta tese pauta-se em investigar e apresentar argumentos que refletem a necessidade de se limitar a liberdade de expressão em busca de obstar casos de discurso de ódio no Brasil. Dentro dessa concepção, esta tese foi dividida em quatro capítulos. O primeiro capítulo é construído com base na estrutura do poder judiciário na Constituição Federal de 1988. Posteriormente, trata-se de examinar a Análise Crítica do Discurso, considerando uma abordagem teórico-metodológica da Análise Crítica do Discurso (ACD), seus conceitos básicos, o modelo tridimensional exposto pelo autor Norman Fairclough, além de apreciar sobre os meios e símbolos do poder e modos de operacionalizar a ideologia. Ainda neste mesmo capítulo, trata-se de investigar e apresentar de forma sucinta os operadores argumentativos e a intertextualidade e, por fim, a Análise Crítica do Discurso Jurídico. No capítulo três infere-se em elucidar sobre o discurso de ódio versus a liberdade de expressão. E por fim, considerando a análise prévia perante um breve resumo do objeto de análise que se referem às ações que foi julgado Jair Messias Bolsonaro e o caso dos quilombolas. A metodologia utilizada pauta-se em considerar uma análise qualitativa, ressaltando as doutrinas e os artigos científicos devidamente publicados, compartilhando seus entendimentos e posicionamentos que, invariavelmente, expõe-se de uma forma política, social e jurídica perante o caso em questão, além de revisar documentalmente os processos no poder judiciário que analisaram a conduta do deputado. A construção do texto foi inteiramente pautada nas considerações dos autores e que, ao final, ressalta-se o posicionamento da autora para buscar construir um cenário brasileiro mais adequado em razão dos crimes de discurso de ódio.

Nos dias de hoje, é cada vez mais comum ouvir que "ser diferente é normal", mas nem sempre
foi assim. Crescer ouvindo que determinado tipo de comportamento é errado, mesmo quando
parece fazer sentido; se sentir sobrecarregada em um lugar que deveria ser feito para se
descontrair; perceber que, talvez, o que muitos consideram “normal” não se aplica às mesmas
situações com você… foi assim que Marguerite, personagem principal da graphic novel A
Diferença Invisível de Julie Dachez e ilustrado por Mademoiselle Caroline, se descobriu
autista. E sua publicação possibilitou a abertura de uma nova camada de entendimento e
discussão sobre o tema. A presente pesquisa tem como foco a compreensão da construção da
identidade do indivíduo autista por meio da escrita autobiográfica, mostrando a importância
da representatividade autista nas mídias. Além disso, um estudo acerca da história do
Transtorno do Espectro Autista foi conduzido, com o intuito de contextualizar como a
percepção do espectro foi se modificando ao longo do tempo e com o aumento de publicações
de indivíduos autistas divulgando suas experiências e vivências. O uso de imagens por meio
da graphic novel também foi um ponto de discussão da validade do recurso na disseminação
da informação sobre o autismo para diferentes tipos de espectadores. O trabalho foi
organizado em três capítulos, cobrindo o histórico do autismo, a identidade e a autobiografia,
e a análise da obra A Diferença Invisível. Com isso, é esperado que o leitor não só conheça
mais sobre o tema, mas também se sinta abraçado por ele.

O acesso à terra no Brasil se situa numa arena de disputa semântica a partir da qual emergem nomeações que constituem pontos de vista (PÊCHEUX [1969], 1997) conflitantes entre si e que buscam (res)significar os sujeitos e o referente  de acordo com as diferentes perspectivas de mundo. Nesse intuito, na presente dissertação, investigamos, de modo qualiquantitativo, o conflito de nomeações a respeito da reforma agrária constituído no embate ideológico entre os sujeitos sem terra e os proprietário rural no período da Nova República brasileira (1985 a 2019), com foco na constituição dos saberes sociais circulantes na e pela sociedade civil. Para tanto, nossos dados são formados por 88 (oitenta e oito) textos produzidos pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Nova Direita em 4 (quatro) momentos distintos desse período da história nacional, a saber: o primeiro engloba o que entendemos ser a instituição da Nova República e a organização política dos atores sociais avaliados (1985 a 1989); o segundo considera a crescente adesão estatal e das elites nacionais à política econômica neoliberal e o aprofundamento do modelo agrícola capitalista (1990 a 1999); o terceiro contempla a intensificação do neoliberalismo (2000 a 2009); por último, o quarto compreende o contexto histórico recente caracterizado pelo fortalecimento do ultraneoliberalismo da Nova Direita na cena pública e pelas práticas autoritárias de perseguição aos movimentos sociais (2010 a 2019). Desse modo, vinculamo-nos à interface entre as concepções de discuso, imaginário e ideologia na AD materialista (PÊCHEUX [1969], 1997; ORLANDI, 1987), a abordagem lexicométrica em Née ( 2017), os estudos da nomeação em Siblot (1997; 2001) e as contribuições para a análise enunciativa da nominalização em Dahlet (2015) e Guilbert (2020) para investigarmos as formas de nomear – nas quais estão incluídas as nominalizações – a terra e os atores sociais envolvidos nos sentidos da reforma agrária. Ademais, analisamos a construção discursiva da legitimidade, autoridade e credibilidade das práticas sociais desses dois grupos. Com isso, almejamos contribuir para o campo dos estudos do discurso sobre o tema, considerando esse diálogo assíncrono, porém contemporâneo, entre as distintas posições discursivas sobre a terra como procedimento teórico-metodológico privilegiado para observar os sentidos da reforma agrária e as implicações que os conflitos entre as nomeações trazem para o debate político. Tendo isso em mente, organizamos a nossa investigação em três capítulos, quais sejam: o Capítulo 1 traça um panorama histórico sobre a distribuição/concentração de terras e sobre o debate da reforma agrária no país; o Capítulo 2 destina-se ao desenvolvimento da nossa perspectiva teórico-metodológica para a análise do debate público sobre a reforma agrária; o Capítulo 3 traz as análises do conflito semântico de nomeações e do processo de ressignificação da reforma agrária entre MST e Nova Direita na Nova República brasileira (1985 a 2019).

Esta dissertação analisa as possibilidades de comunicação do personagem Fabiano no romance Vidas secas (1938), do autor nordestino Graciliano Ramos. O estudo teve como metodologia a pesquisa bibliográfica direcionada pelos textos que tratam da atividade linguística de Fabiano, principalmente, no que tange ao seu desempenho discursivo dentro das relações de produção entre o proprietário e o vaqueiro, relações estas que marcam a sociedade oligárquica dos primeiros decênios do século XX. Por haver muitas publicações críticas sobre o autor e sua obra, optamos por utilizar aquelas que trazem discussões acerca da escrita singular de Graciliano e do seu fazer literário como modo de dar visibilidade a sujeitos considerados “pobre-diabos”. Por se tratar de um período em que havia um movimento em prol do Nordeste, procurou-se contextualizar a época da escrita do romance que teve influência na escolha do tema e na linguagem dos personagens. Propomos também uma discussão acerca do papel do intelectual ao representar sujeitos subalternizados.

Nesta pesquisa propomos a compreensão do cinema enquanto semiótica sincrética, do ponto de vista da proposta elaborada por Waldir Beividas. Para isso, valemo-nos da teoria semiótica de Greimas e de seus antecessores, para compreender a abordagem aqui presente e a concepção de sincretismo apresentada por Hjelmslev, a partir dos estudos precursores de Saussure. Ao final, realizamos uma demonstração de análise do modelo apresentado.

Professor e aluno em orientaçãoes sobre leitura e escrita de língua portuguesa: parâmetros curriculares nacionais (1998) e a base nacional comum curricular (2017)

Na Minha Pele: uma análise sob a perspectiva do Letramento Racial

Devido àgrande dinamicidade e capacidade de ressignificação da linguageme suas transformações no meio digital, nossa pesquisa elege os memes como objeto de estudo, no intuito de compreender esse fenômeno de ação coletiva na/da ciberculturasob a perspectiva da Semântica da Enunciação. Sendo assim, o presente trabalho propõe investigar como se manifesta a (re)construção dos efeitos de sentido, por meio do meme, a partir de um olhar semântico-enunciativo. Em termos mais abrangentes, nosso objetivo principal consiste em analisar os domínios estruturais bem como aqueles de ordens histórico-sociais que sustentam o processo de significação dosmemes.Para desenvolver a análisea que nos propomos, buscamosdiscutir o conceito de meme, traçando um percurso conceitual do termo eexaminandoas características que o compõem. No que tange ao tema e à delimitação do objeto de estudo, procuramosabordar os memes relacionados à ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff. A elaboração do corpusda pesquisa foi realizadapor meio de entradas de busca na plataforma Googleutilizando do processo metodológicodas redes enunciativas (DIAS, 2018). Desse modo, nossa análise permitiu identificar que a (re)construção da significação de um meme se dá por meio da relação entre semelhanças e diferenças e que, associado a sua capacidade metamórfica e adaptativa, tais fenômenos digitais se sustentam em referenciais diversificados condensando efeitos de sentido e se constituindo enquanto enunciados em rede.

Entre os anos de 1930 e 1980, a morte de mais de 60 mil pessoas marcou drasticamente o manicômio de Barbacena, no Estado de Minas Gerais. O psiquiatra italiano Franco Basaglia visitou, em 1979, o Hospital Colônia – o maior hospital psiquiátrico do Brasil, na época – e declarou, em uma coletiva de imprensa, que tinha visitado um campo de concentração nazista. Em 1979, o jornal Estado de Minas publicou a reportagem de Hiram Firmino, intitulada “Os porões da loucura”, que se transformou em um livro homônimo, editado pela Coleção Edições do Pasquim (volume 104). No mesmo ano, foi filmado o documentário Em nome da razão, de Helvécio Ratton. Depois, o assunto só foi retomado pela mídia em 2013, quando a jornalista Daniela Arbex fez uma série de reportagens para o jornal Tribuna de Minas, e que culminou na escrita do livro Holocausto brasileiro: vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil. Em 2016, foi lançado o documentário Holocausto brasileiro, produzido pela HBO e veiculado no canal fechado de televisão Max. Nossas inquietações surgem a partir da (re)leitura de narrativas e de fotografias de forte impacto sobre o manicômio. O número de mulheres retratadas e o espaço dado a elas nos intrigou e, parafraseando Spivak (2010), questionamos: pode a mulher “louca” falar? A “louca”, nos documentários, ganha seu espaço de fala e é constituída, com o manicômio, pelos produtores. Não deixamos de pensar que essa construção passa pelo crivo da lente dos documentaristas e dos sujeitos envolvidos, de alguma forma, com o Colônia, e, conforme vemos em Mussalim (2001), os sujeitos definem-se pelas palavras dos outros, que são, então, uma significante do outro, portanto, nossas inquietações partem dessas constituições e ressignificações. Tratamos, assim, do que chamamos, aqui, de acontecimento manicomial e, a partir disso, faremos recortes (ORLANDI, 1984) de narrativas e de imagens de mulheres “loucas” (em períodos distintos) e dos espaços que se referem ao Colônia. Nosso trabalho tenta trazer diferentes elementos significantes com o propósito de analisar os efeitos de sentidos provocados pelos documentários, uma vez que eles são povoados de silêncios e memórias – o que nos incitou a pensar em associações com a Ditadura Militar e o Holocausto Nazista. Para atingirmos nossa meta, nossa análise teve o respaldo teórico da Análise do Discurso, de linha francesa, com conceitos sobre condições de produção, formações discursivas, formações imaginárias, silêncios e memória discursiva, para pensar no trabalho da ideologia que atravessa e institui sujeitos, que determina sentidos e que silencia outras possibilidades de leitura dos/nos documentários.

RAP, resistência e(m) oralidade: representações de preconceito e subversão no RAP de Karol Conka

Esta dissertação tem como proposta estudar o mangá Aku no hana (As flores do mal, em tradução livre), de Shuzo Oshimi publicado de 2009 a 2014. O estudo de Aku no hana parte de suas relações com o livro As flores do mal, de Charles Baudelaire, publicado pela primeira vez em 1857. O conceito de flanêrie, bastante utilizado por Baudelaire, pode ser relacionado ao personagem principal do mangá o que cria um viés de comparação estudado nesta pesquisa. O mal é outro conceito que envolve a análise comparativa entre os dois objetos. O que se procurou trabalhar foi o mal voltado para a religião – o mito da Queda, o pecado original – e também a relação do antimodernismo tanto em Baudelaire quanto em Kasuga (o personagem principal de Aku no hana). Uma pesquisa comparativa dessas duas obras, tão diferentes entre si – seja nas relações formais entre o gênero “poema” e o gênero “mangá”, seja no âmbito político e cultural – contribui para uma nova interpretação que se ancora nos pontos comuns entre essas obras.

Esta pesquisa investiga se (e em que medida) o processo de transposição didática de saberes compartilhados em gêneros efetiva-se em eventos de letramentos em uma coleção de livros didáticos de Língua Portuguesa destinada aos três anos do Ensino Médio, intitulada Novas Palavras (AMARAL et al., 2013). No trajeto da pesquisa tomam-se, portanto, duas questões centrais: como se delineiam esses gêneros na coleção em questão e como as orientações para os professores representam o fazer docente em práticas desejáveis, tornando-se eventos de letramentos para a aprendizagem dos alunos. Para isso, o primeiro capítulo apresenta um conjunto de pesquisas que tem o livro didático como objeto de estudo polissêmico, culturalmente compreendido como dotado de atividades para ensino/aprendizagem e voltado para regramentos do fazer docente, definindo conteúdos e formas de trabalho. O segundo capítulo discute os conceitos de gênero textual (SWALES, 1990) e de gênero discursivo (BAKHTIN, 2003). Além desses autores, são considerados outros como Marcuschi (2001; 2002; 2005; 2008), Bunzen Júnior (2006, 2009) e Motta-Roth (2008), a fim de esclarecer o modo como pesquisas nacionais têm assimilado e desenvolvido aqueles conceitos. Em seguida, é discutido em que consiste o processo de transposição didática e como se dá esse processo na transposição de gêneros para o livro didático de Língua Portuguesa. O terceiro capítulo busca problematizar diferentes acepções que o conceito de letramento tem recebido ao longo do tempo e relacioná-las à transposição e ao modo como se realizam eventos de letramento por meio do livro. Por fim, o quarto capítulo considera a noção de gênero do discurso como categoria de análise da coleção Novas Palavras (AMARAL et al., 2013), procurando verificar se (e em que medida) acontecem as orientações referentes à transposição didática desses modos de ação social, representando a prática docente de Língua Portuguesa. Foram consideradas, para isso, as perspectivas dos letramentos sociais, conforme são discutidas em Street (2006, 2014). Verifica-se, também, a partir de pesquisa documental (VENTURA, 2013), como os gêneros, compreendidos como simulacros, delineam-se em partes da coleção, constituindo, juntamente das orientações ao professor, formas de representação do fazer docente em atividades presentes nos livros didáticos, corpus da análise. Por meio dessas etapas, verificou-se que a transposição de gêneros do discurso efetiva-se parcialmente na coleção Novas Palavras (AMARAL et al., 2013), tendo em vista o modo, por vezes fragmentado, como os autores da coleção trabalham com gêneros para o ensino de Língua Portuguesa

Um defeito de cor: encruzilhadas narrativas

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Este trabalho possui o objetivo de compreender como a poesia, enquanto fenômeno instaurador de sentido, se manifesta no espaço urbano. Para isso, realizamos uma série de entrevistas com moradores de São João del-Rei visando compreender os diferentes modos como os habitantes dessa cidade se relacionam, de forma poética e afetiva, com seus espaços urbanos. Esse corpus, formado pelas entrevistas, foi problematizado, levando-se em conta o conceito de imagem poética, tal como se encontra na obra de Gaston Bachelard, destacando e desenvolvendo as considerações desse autor acerca das imagens poéticoespaciais. Também foi por nós trabalhada a idéia de cidade enquanto obra de arte, conforme se encontra na obra de Giulio Carlo Argan. O resultado dessa análise nos permitiu criar um mapa afetivo e literário dos espaços urbanos de São João del-Rei. Pretendemos que esse mapa contribua para as discussões a respeito das políticas de preservação do patrimônio cultural, já que é esse um assunto de grande atualidade e importância para nossa região. Nesse sentido, essa pesquisa também visa complementar outros trabalhos, desenvolvidos anteriormente nessa universidade, nos quais também buscamos compreender a dinâmica própria da cidade.

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