A formação das identificações militares e suas ressonâncias no contexto sócio político da atuação das forças armadas no Brasil
identificação; militares; psicanálise; política brasileira; relações militar–civil.
Esta dissertação investiga a formação das identificações militares e suas ressonâncias no contexto sócio-político brasileiro, utilizando o referencial teórico psicanalítico para compreender a recorrente atuação política das Forças Armadas no Brasil. O trabalho articula conceitos fundamentais da psicanálise — especialmente as noções freudianas e lacanianas de identificação, ideal do Eu e formação de massas — com uma análise histórica das intervenções militares na política nacional. A pesquisa emprega uma metodologia que conjuga historiografia e psicanálise, propondo um “romance-chave” militar brasileiro estruturado em torno de três significantes-chave: hierarquia e disciplina, tutela e poder moderador. A análise demonstra como a formação militar, baseada na introjeção de um ideal do Eu hierárquico e disciplinador, produz uma massa que se percebe moralmente superior aos civis, legitimando práticas tutelares sobre a sociedade. O estudo examina como essas identificações militares transbordam os quartéis e aspiram moldar a nação segundo seus valores, estabelecendo uma hierarquia entre militares e civis. A pesquisa revela ainda a cumplicidade civil na manutenção dessa dinâmica, expressa tanto no apelo recorrente por intervenções militares quanto na moderação política que evita confrontar as pretensões tutelares das Forças Armadas. As conclusões apontam para a necessidade de uma desidentificação com o modelo militar como condição para a consolidação democrática brasileira, evidenciando que a superação da tutela militar requer o reconhecimento da responsabilidade civil na perpetuação dessa estrutura.