IMPACTOS E LEGADOS: UM ESTUDO SOBRE A SAÚDE MENTAL DOS ENFERMEIROS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Saúde mental; saúde do trabalhador; atenção primária em saúde; gestão de enfermagem; COVID-19
A pandemia de Covid-19 impôs desafios críticos à Atenção Primária à Saúde (APS), afetando intensamente enfermeiros-gestores. Esta tese analisa impactos da pandemia sobre a saúde mental desses profissionais em São João del-Rei/MG e legados que emergiram dessa experiência. Com abordagem qualitativa, ancorada nas Clínicas do Trabalho, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 16 enfermeiros-gestores, seguidas de autoconfrontação evocada. Os dados foram analisados por meio de análise de conteúdo (Bardin) e complementados com mapas de percurso. Os resultados evidenciaram, na organização do trabalho, acúmulo de funções, sobreposição entre assistência e gestão, interferências políticas, adaptações constantes de espaços físicos e processos, além de volume massivo de normativas instáveis. As condições laborais envolveram escassez de recursos humanos, estruturas físicas inadequadas, pressão assistencial e apoio institucional frágil. Em contraste, observou-se rápida regularização no fornecimento de insumos e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Sintomas como ansiedade, medo, estresse, exaustão e desamparo foram recorrentes. Como estratégias de enfrentamento, destacaram-se, no plano individual, espiritualidade, uso de medicação, apoio familiar e autocuidado; e, no coletivo, apoio entre pares, cooperação nas equipes, troca de saberes e renormatização do trabalho. Os mapas de percurso evidenciaram a pandemia como ponto de bifurcação. Como legados, sobressaíram desenvolvimento pessoal e profissional, valorização da APS, fortalecimento do autocuidado, protagonismo do enfermeiro-gestor, reconfiguração das relações com o outro, transformações organizacionais e ressignificação do sentido do trabalho. A pesquisa contribui para a Saúde do Trabalhador e gestão do SUS ao evidenciar que o trabalho real pode ser tanto espaço de criação quanto fator de adoecimento.