INICIANDO UMA VIDA EM LABORATÓRIO: UM ESTUDO ATOR-REDE DA AFETAÇÃO DO CORPO NAS PRÁTICAS CIENTÍFICAS
niciação na ciência; Teoria Ator-Rede; Afetação.
Neste estudo foi desenvolvida uma etnografia que acompanhou os primeiros dias de uma jovem graduanda em laboratórios de pesquisas científico-acadêmicas na área de Ciências Biológicas na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). As orientações teórico-conceituais e metodológicas foram fundamentadas no campo dos Estudos da Ciência (Science Studies), também denominado Antropologia da Ciência (LATOUR e WOOLGAR, 1997; LATOUR, 2000, 2001, 2011), e na Teoria Ator-Rede (TAR) (LATOUR, 2012). A estudante-cientista investigada atuou na pesquisa enquanto actante focal (AF)(CALLON, 2007), assim, o estudo etnográfico intentou compreender como ocorreu seu processo formativo durante a iniciação nas atividades científicas. Para isso, foi adotado o conceito de afetação (LATOUR, 2008) tendo em vista perceber a aprendizagem enquanto condições de se associar com o meio e de responder a ele de forma mais articulada. (LATOUR, 2008, MELLO, 2011) A coleta de dados ocorreu entre os meses de maio de 2018 a julho de 2019 e contou com observação participante, registros fotográficos e anotações em caderno de campo. Os eventos analisados neste texto se concentraram nos sete primeiros encontros com a AF, compreendidos entre os dias de 08 de maio de 2018 a 25 de setembro de 2018. Nossas análises indicaram que a pesquisa desenvolvida pelo grupo de estudos acompanhado apresentou uma série de etapas e procedimentos que foram registrados como transformações (LATOUR, 2008) referentes às ações científicas nas quais a informação é conduzida e modificada pelos pesquisadores e atores não-humanos durante o evento científico. (LATOUR, 2001, 2008, 2011) Os resultados indicam que o carácter público da instituição de ensino onde ocorreu a formação da actante focal deixaram marcas na suas experiências de pesquisa, nas práticas desenvolvidas pelos pesquisadores e na ciência produzida. Esse caráter esteve expresso na contratação dos atores humanos, na infraestrutura da instituição e no financiamento das pesquisas. Em meio a essas características, surgiram também práticas científicas que permitiram aos pesquisadores lidar com bloqueios, problemas e escassez de recursos — o que, em termos coloquiais, entende-se por gambiarras. Ao participar dessa rede de experimentos científicos, a estudante-cientista se associou a um número diverso de actantes e, em algumas situações, apresentou evidências de ser afetada por e com eles, agregando uma performance mais articulada do seu corpo (LATOUR, 2008) no/com o laboratório.