TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E O ENSINO DE QUÍMICA: UM OLHAR PARA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES
Inclusão, Educação Especial, Transtorno do Espectro Autista, Formação inicial de Professores.
A formação de professores é um processo subjetivo, intrínseco e pode ser
compreendida como lugar de vida e morada do ser professor, onde sua existência
profissional será permanentemente acompanhada por processos formativos podendo
estes serem de início, meio ou fim da carreira. Defensores de uma educação inclusiva
e emancipatória devem ir além de um ensino técnico e questionar como a Educação
Especial (EE), na perspectiva inclusiva, está integrada à formação inicial. A EE,
enquanto modalidade transversal a todas as etapas escolares, visa garantir a inclusão
de alunos com deficiência, transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno
do Espectro Autista (TEA), e altas habilidades/superdotação. O TEA, por sua vez,
caracteriza-se por desafios na comunicação e interação social, além de padrões
repetitivos de comportamento dentre outras particularidades. Este estudo busca
compreender se e como a temática da Educação Especial com foco no TEA, é
abordada no curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal de São João
del-Rei (UFSJ), investigando também a percepção dos licenciandos sobre sua
formação para atuar de forma inclusiva. Neste estudo adotamos uma pesquisa de
caráter qualitativo e tivemos como ambiente de pesquisa um curso de Licenciatura em
Química de uma universidade federal. Inicialmente realizamos uma pesquisa
documental, investigamos o projeto pedagógico do curso (PPC) e os planos de ensino
das disciplinas que tinham em algum aspecto discussão sobre a EE. Como
instrumento de pesquisa adotamos o questionário, o qual foi aplicado aos
licenciandos. As questões nele contidas buscaram explorar as vivências,
conhecimentos e preparação dos participantes em relação ao TEA durante sua
formação inicial, fazendo uso de cinco questões abertas e oito fechadas. Para a
análise dos resultados adotamos a metodologia de pesquisa Análise de Conteúdo. As
categorias que emergiram foram: Caracterização dos participantes, Compreensão
sobre o autismo, Particularidades do Transtorno do Espectro Autista, Ensino e
aprendizagem, Inclusão e Formação de professores. Algumas dessas categorias
demandaram a criação de subcategorias, a fim de organizar de forma mais precisa os
diferentes núcleos de sentido identificados nas falas, favorecendo uma análise mais
aprofundada dos dados. A partir da análise dos documentos observamos que apesar
das bases legais que regulamentam a EE, o PPC do curso não destaca a formação
voltada para alunos com necessidades específicas. São poucas as disciplinas
relacionadas à diversidade e inclusão e elas abordam apenas conceitos gerais, não
fornecendo ênfase adequada à EE. Observamos que grande parte dos licenciandos
não se encontram preparados para uma atuação verdadeiramente inclusiva quanto ao
TEA. Apesar de alguns alunos apontarem certo conhecimento sobre a temática, há
ainda uma insegurança principalmente no que tange às diferenças nos graus do
transtorno. Algumas falas dos participantes deste estudo apontam ainda
conhecimentos muito rasos e às vezes generalizados acerca do autismo, trazendo até
mesmo certo capacitismo estrutural. A pesquisa evidenciou fragilidades na abordagem
da Educação Especial e do TEA na formação inicial em Química. Reforçamos a
necessidade de uma formação mais crítica, ética e humanizada, tanto para
licenciandos quanto para formadores. O estudo destaca a importância de escuta,
diálogo e práticas inclusivas no ensino superior. Futuras investigações podem abordar
acessibilidade e estratégias institucionais de apoio aos estudantes PAEE.