IDENTIFICANDO INDÍCIOS DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA POR MEIO DE PRÁTICAS EPISTÊMICAS EM ALUNOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Alfabetização Científica; Práticas epistêmicas; Ensino por investigação; Educação em Ciências; Ensino Fundamental.
Esta dissertação tem como objetivo identificar indícios do processo de
Alfabetização Científica (AC) por meio da manifestação de práticas epistêmicas em
alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, durante a participação em uma
sequência de ensino investigativo (SEI). A pesquisa, de abordagem qualitativa,
natureza básica e caráter exploratório, utilizou procedimentos de pesquisa
interventiva e aplicada. Participaram estudantes do 1o ano do Ensino Fundamental
I de uma escola no interior de Minas Gerais, em atividades integradas ao currículo
escolar e desenvolvidas ao longo de 37 aulas.
Durante a sequência, os alunos foram incentivados a elaborar e testar hipóteses,
observar sistematicamente, comparar resultados, argumentar com base em
evidências e formular explicações coletivas, práticas epistêmicas essenciais à
construção do pensamento científico. As aulas incluíram experimentos, discussões
orientadas, registros orais e desenhos, além do uso de recursos audiovisuais e do
livro didático, o que favoreceu a mobilização de múltiplas linguagens no processo
de investigação.
Os dados, registrados em áudio e vídeo e posteriormente transcritos, foram
analisados com base nos indicadores de AC de Sasseron e Carvalho (2008) e nas
categorias de práticas epistêmicas de Silva, Gerolin e Trivelato (2018). Os
resultados revelam que as crianças demonstraram progressos notáveis na
organização e classificação de informações, no raciocínio lógico e proporcional e
na compreensão das relações de causa e efeito entre variáveis. As falas indicaram
a capacidade de avaliar evidências e formular explicações coerentes a partir da
observação dos fenômenos, como ao relacionarem a falta de luz ao amarelamento
das plantas ou a ausência de algodão à dificuldade de crescimento. Também
emergiram justificativas elaboradas, hipóteses alternativas e reformulações
conceituais que denotam um avanço do pensamento cotidiano para formas iniciais
de raciocínio científico.
A análise mostra que a mediação docente, pautada em interações dialógicas, foi
determinante para transformar a curiosidade espontânea em investigação
orientada, estimulando a argumentação, a colaboração e o engajamento afetivo. A
SEI possibilitou às crianças compreenderem que a ciência se constrói por meio da
observação, do questionamento e da comparação entre previsões e resultados,
consolidando atitudes investigativas próprias do fazer científico.
Com base nos resultados obtidos, discutem-se as implicações educacionais do
ensino por investigação para os anos iniciais, ressaltando sua relevância para a
formação de sujeitos críticos, curiosos e reflexivos, e apontam-se novas
possibilidades de pesquisa voltadas ao aprofundamento das relações entre práticas
epistêmicas e AC no Ensino Fundamental.