FATORES ASSOCIADOS À LEISHMANIOSE VISCERAL NAS AMÉRICAS: ATUALIZAÇÃO DAS EVIDÊNCIAS POR MEIO DE REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISES
Revisão sistemática; Epidemiologia; Leishmaniose; Fator de risco
Introdução: A Leishmaniose Visceral (LV) é uma doença grave com ampla distribuição mundial. A identificação e avaliação contínua dos fatores de risco para LV são fundamentais para aprimorar a prevenção e controle, além de otimizar a alocação de recursos. Este estudo tem como objetivo analisar os fatores associados com a LV em seres humanos e em cães. Métodos: Trata-se de uma revisão sistemática que atualiza os achados de duas revisões anteriores publicadas em 2013. Foram adicionados estudos transversais, de coorte e de caso-controle publicados entre julho de 2011 e março de 2024. As associações entre a LV e os fatores associados foram analisadas por meio de meta-análises de efeitos aleatórios, análises de subgrupos e modelos de meta-regressão. A qualidade metodológica dos estudos foi avaliada, e as evidências classificadas segundo a abordagem GRADE. Resultados: Foram incluídos 46 estudos sobre a LV humana e 111 sobre a Leishmaniose Visceral Canina (LVC). Os homens tiveram maiores chances de LV, mas a associação foi forte e significativa apenas em estudos caso-controle. Embora maiores chances de LV em crianças e em domicílios com cães ou galinhas/aves tenham sido identificadas em estudos caso-controle, uma associação inversa foi observada em estudos transversais e de coorte. Indivíduos com piores condições socioeconômicas, moradores de domicílios com quintais ou com cães soropositivos e com contato prévio com familiares/vizinhos infectados tiveram mais chances de se infectar. Os níveis de evidência das associações para as variáveis sexo e idade foram moderados, enquanto para todas as outras associações foram baixos ou muito baixos. Nos cães, as associações com evidências mais consistentes e de nível moderado se referiram ao pelo curto, à criação do animal no peridomicílio, à possibilidade de acesso à rua e à presença de quintais ou áreas vegetadas próximas ao domicílio, que se associaram com maiores chances de infecção. Cães machos, com ectoparasitas, de maior porte e que tinham contato com cavalos também foram mais susceptíveis à infecção, embora com nível de evidência fraco. As outras associações com a LVC tiverem evidências consideradas muito fracas. Em geral, os fatores relacionados a um pior cuidado com o cão se associaram a uma maior chance de infecção, o que também ocorreu quando se consideraram os menores níveis de escolaridade e renda, a presença de galinhas e/ou galinheiro, de gatos, de flebotomíneos, de casos anteriores e de outros cães no ambiente. Apesar de avanços metodológicos tanto v nos estudos com cães, quanto com seres humanos, persistem limitações relevantes na literatura quanto aos critérios de seleção, controle de variáveis de confusão e nos métodos estatísticos adotados. Conclusão: Este estudo apresenta uma análise detalhada dos fatores associados à LV e à LVC, contribuindo para a compreensão dos determinantes da infecção. Além disso, evidencia os avanços no conhecimento sobre o tema e destaca aspectos que ainda requerem aprimoramento. Tanto para os cães, quanto para os seres humanos, devem ser priorizados estudos com maior poder estatístico, com a adição de técnicas moleculares de diagnóstico, com a utilização de desenhos de coorte e de caso controle e que sejam realizados também em diferentes países da América Latina.