“Tolerância e susceptibilidade à supersaturação gasosa de Hydrolicus armatus e Pseudoplatystoma punctifer em rio sob influência de usina hidrelétrica.”
Supersaturação; Mortandade; Peixes Neotropicais; Usinas Hidrelétricas; TDGS (Gases Totais Dissolvidos)
O crescimento dos empreendimentos hidrelétricos nas últimas décadas tem se destacado pelo uso de fontes renováveis e pela baixa emissão de gases de efeito estufa. No entanto, esses empreendimentos também podem gerar impactos ambientais significativos nos ecossistemas aquáticos, afetando diretamente a ictiofauna local. Dentre esses impactos, a supersaturação de gases totais dissolvidos (TDGS) é um problema ambiental relevante associado à operação de Usinas Hidrelétricas (UHEs). Tal fato ocorre quando a água dos vertedouros empurra bolhas de ar atmosférico para a coluna d’água do rio, aumentando a concentração de gases dissolvidos, como oxigênio, nitrogênio e argônio para níveis superiores a 100%. A exposição prolongada à TDGS pode causar doença da bolha de gás (GBT), embolias gasosas e outros efeitos fisiológicos nos peixes. No entanto, valores de tolerância a TDGS para peixes de regiões neotropicais, ainda é pouco estudada. No Brasil, alguns eventos de mortalidade de peixes têm sido associados à TDGS, como na UHE Sinop, no rio Teles Pires, onde toneladas de peixes mortos foram registradas após a abertura do vertedouro. Dentre as espécies mais afetadas estão Hydrolycus armatus e Pseudoplatystoma punctifer, importantes predadores da bacia Amazônica, apresentando comportamentos ecológicos distintos, nectônico e bentônico, sendo essenciais para o equilíbrio ecológico. Apesar de estudos prévios sobre a tolerância de algumas espécies à TDGS, ainda há uma grande lacuna no conhecimento sobre os efeitos desse fenômeno em peixes neotropicais. O presente estudo tem como objetivo avaliar a susceptibilidade de H. armatus (nectônico) e P. punctifer (bentônico) à TDGS, considerando que peixes bentônicos, devido à sua menor mobilidade vertical, possam ser mais vulneráveis a TDGS. Os experimentos serão realizados em laboratório, utilizando tanques equipados com sistemas de controle de supersaturação. Serão conduzidos testes de exposição aguda (até 72 horas) em níveis de saturação entre 100% e 160%, e de exposição crônica (até 10 dias) em níveis de até 120%. Durante os experimentos, serão monitoradas taxas de mortalidade e ocorrência de lesões relacionadas à GBT. A análise dos dados será feita por meio da construção de curvas de sobrevivência, estimando os limiares de tolerância de cada espécie e identificando possíveis diferenças entre os comportamentos nectônico e bentônico em relação à TDGS. Espera-se que os resultados contribuam para um melhor entendimento dos impactos da TDGS em peixes neotropicais, auxiliando na formulação de estratégias para minimizar a mortalidade de peixes em UHEs e reduzir os impactos ambientais associados à operação hidrelétrica.