O direito à cidade, inclusão, pertencimento e identidade, na percepção dos reinadeiros da cidade de Oliveira: uma comparação entre a festa de Nossa Senhora do Rosário e o cotidiano
Reinado, Oliveira, religiosidade, cultura, pertencimento
O projeto de pesquisa intitulado “O direito à cidade, inclusão, pertencimento e a identidade, na percepção dos reinadeiros da cidade de Oliveira: uma comparação entre o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, e o cotidiano”, pretende discutir como se dá, na entendimento dos reinadeiros, as discrepantes mudanças de cenários na festa do Reinado, de como percebem seu pertencimento e sua inclusão nestes eventos, em comparação aos outros dias de suas vidas, ao longo do ano. O Reinado de Nossa Senhora do Rosário em Oliveira, Minas Gerais é uma potente manifestação da cultura afrobrasileira, uma dos maiores do país, é realizada desde o século XVIII, sendo que, em algumas ocasiões houve, por parte dos poderes municipais constituídos, em consenso com a igreja católica, a sua proibição, sob alegações racistas e discriminatórias, quanto à religiosidade ancestral, quanto aos aspectos culturais originários da África, característicos desta performance. Da última vez em que o Reinado foi proibido, voltou a ser autorizada através do pedido de uma senhora da elite branca e de um Capitão Reinadeiro, que conseguiram a liberação da festa, na primeira metade do século XX, mas que, desde então, vem se manifestando, em alguns aspectos, sob a tutela das instituições da governança municipal, de alguns aspectos das tradições europeias e da religião católica. Discutiremos como, na percepção dos reinadeiros, os mesmos percebem o seu acesso, inclusão social, autonomia de decisões, cidadania, identidade e direitos humanos, como protagonistas, nos dias da performance, e nos outros dias de seu cotidiano. Nossa suposição, é que pode haver muitas perguntas a serem respondidas neste contexto, frente às desigualdades sociais vigentes, que excluem os negros do centro da cidade, local do poder de decisões sobre a cidade, obrigando-os a residirem nas periferias, onde falta infra-estrutura urbana e onde os acessos à equipamentos de saúde, educação, assistência social e oportunidades de influenciar sobre os destinos da cidade, diferentemente das possibilidades oferecidas aos cidadãos e cidadãs do centro, e dos bairros do entorno do centro. Vemos a importância de tal objeto de investigação, por ensejar reflexões do quanto o movimento reinadeiro, com seu arcabouço cultural, religioso e social é importante para a sua identidade coletiva, que pode, através de sua organização, almejar e buscar valorização, inserção, dignidade, decisão e autonomia sobre a cidade, e sobre os meios para a melhoria da qualidade de vida e sua emancipação.