Palavras-chave: •Oralidade, Canto no Teatro, Pedagogia Decolonial, Voz e Corpo, Escrevivência. Teatro Musical, Cabaré, Memória 

 

 

Esta pesquisa dissertativa propõe uma reflexão crítica sobre a preparação vocal de atores no teatro musical, argumentando que a pedagogia tradicional, historicamente ancorada em métodos eurocêntricos, tem marginalizado práticas culturais e vozes não hegemônicas. O trabalho, que emerge de uma trajetória pessoal do pesquisador em confronto com o ensino formal, identifica a colonialidade do saber e do sentir como um sistema ativo que hierarquiza culturas e impõe padrões estéticos e técnicos excludentes, culminando no que se denomina epistemicídio vocal. Em contraposição, o estudo aprofunda a oralidade como uma prática ancestral e uma matriz epistemológica de resistência, em diálogo com as noções de oralitura como tecnologia de resistência e de escrevivência como ato político de sobrevivência e inscrição da experiência vivida no corpo-voz. A metodologia adotada é a pesquisa-ação participativa, centrada na escuta como prática ética, política e epistemológica, e no corpo como território de memória e saber. O campo empírico principal foi o projeto de extensão "Cabaré Presente! Tra(d)ição e Futuro",onde uma metodologia de treinamento vocal foi elaborada com base na oralidade, performance e cultura popular. As práticas incluíram exercícios que valorizam a expressividade individual, a conexão entre voz, corpo e emoção. Os resultados revelam uma transformação subjetiva nos participantes, que superaram o medo de "não saber" ou "desafinar", reconciliando-se com suas vozes como territórios de identidade, afetos e histórias. A pesquisa propõe, assim, diretrizes para uma pedagogia vocal decolonial, inclusiva e contra-hegemônica, que rompa com padrões normativos, legitime a diversidade de vozes, corpos e saberes, e reconfigure o ensino do canto como um ato de justiça, presença e luta pela pluralidade no teatro e na educação.