Escatologia e vida moral: o problema da imortalidade da alma no Fédon de Platão
Alma. Imortalidade. Metempsicose. Escatologia. Platão.
Um dos temas mais recorrentes nos diálogos de Platão, além da teoria das Ideias, é a escatologia, ou seja, a temática do destino da alma após a morte. Ora, o Fédon é considerado um dos diálogos platônicos mais relevantes a respeito da questão escatológica: nele convergem, de fato, as teorias de Platão acerca da teoria das Ideias e da imortalidade da alma, teorias consideradas como “os pilares gêmeos do platonismo”. No Fédon, Platão quer provar a imortalidade e a indestrutibilidade da alma, recorrendo seja a argumentos, seja a narrativas fundadas na fé e no mito, e não necessariamente numa lógica puramente dialética. Portanto, é importante perscrutar se os argumentos platônicos desenvolvidos no Fédon podem ser considerados razoáveis e plausíveis e analisar por que, para o filósofo, o estabelecimento de uma posição acerca da questão da imortalidade da alma constitui um procedimento essencial e premente, mesmo que tal posição, no fim das contas, não esteja integralmente baseada em provas filosóficas irrefutáveis. Consideramos que a investigação desse problema no Fédon nos mostrará que o estabelecimento de uma posição acerca da questão da imortalidade é, para o pensamento platônico, algo de crucial e imprescindível, pois, de acordo com esse pensamento, o problema da imortalidade da alma não é um problema irrisório e ocioso, mas algo que afeta decisivamente a vida moral humana, uma vez que o sentido da vida moral se modifica completamente caso se acredite que a alma é imortal ou não.