Liberalismo e laicização: a interpretação de Strauss a respeito da solução progressista de Spinoza ao problema teológico-político
Filosofia política; Liberalismo; Spinoza; Strauss
O objetivo geral deste trabalho é analisar a leitura que Leo Strauss desenvolve da obra de Spinoza a respeito do problema teológico-político. A hipótese aqui defendida é que Strauss adota uma postura crítica em relação às posições de Spinoza, posições essas que se mostram como fundamentais para o desenvolvimento da modernidade. Spinoza, segundo a leitura de Strauss, procura, de fato, estabelecer um fundamento puramente racional para a moralidade bem como para a sociedade. No entanto, para ser possível o desenvolvimento dessa proposta foi necessário empreender uma crítica radical da ortodoxia religiosa. A fim de estabelecer uma sociedade baseada em princípios seculares, ou uma sociedade laica, como queria Spinoza, seria necessário assim demonstrar que a orientação religiosa deveria ser deixada de lado em prol de uma orientação com base na razão. Para tanto, explica Strauss, os autores modernos, em especial Spinoza, procuraram empreender uma crítica da religião que mostrasse a incapacidade da ortodoxia de fornecer a melhor orientação para o ser humano. No entanto, de acordo com a análise straussiana, a crítica elaborada pelos autores modernos não forneceu uma argumentação detalhada que demonstrasse por meios puramente racionais que a ortodoxia religiosa deveria ser deixada de lado. O que ocorreu, segundo Strauss, foi que a religião foi desconsiderada do debate por parte da ciência; essa atitude, porém, se fundamentou em um preconceito, pois, como foi dito, a rejeição da ortodoxia por Spinoza e pelo iluminismo moderno não foi fruto de uma investigação séria. Do ponto de vista straussiano, uma vez que não existe a possibilidade de refutar a religião por meio dos procedimentos da razão, pois a ortodoxia se baseia em uma premissa irrefutável, i. e., a premissa de um Deus misterioso, cujos caminhos não são nossos caminhos, então o projeto filosófico de Spinoza não está justificado por meios racionais, mas constitui um ato de vontade.