Tu, impossivelmente morto: sem ti e sempre contigo – desdobramentos do eu-outro em Morreste-me
Literatura Portuguesa; Memórias; Autoficção; Escritas de Si.
Este trabalho tem como objetivo o estudo da obra Morreste-me (2015), do escritor português
José Luís Peixoto, observando como, ao retornar à sua terra natal, o eu textual passa a
perceber em si mesmo características que remetem ao pai falecido e como esses elementos
atuam na formação de sua própria identidade. A intensidade de sua escrita, enraizada em
experiências pessoais e na reflexão sobre temas universais, destaca a posição de Peixoto como
um dos expoentes da literatura portuguesa contemporânea. No livro, escrito em primeira
pessoa por eu não nomeado, acompanhamos a jornada de um filho que se movimenta pelo
local onde nasceu, pela casa que morou com a família e o cemitério em que seu pai está
sepultado. Nesse movimento, em meio a uma profunda introspecção, o indivíduo revisita
esses espaços, relembrando momentos da infância e juventude ao lado do pai. O leitor tem
acesso aos seus pensamentos mais profundos e é capaz de perceber que a estreita ligação entre
os dois permite ao filho sentir que possui uma identidade compartilhada com o pai. Devido às
numerosas semelhanças entre o texto e a vida do próprio autor, recorremos aos estudos de
Gasparini (2014) e Doubrovsky (1977) sobre o termo autoficção, assim como aos de Lejeune
(2008) sobre autobiografia. Além disso, nos baseamos no texto de Huston (2012) para abordar
o fato de que o ser humano é uma espécie fabuladora e está cercado por ficções e ao texto de
Barthes (2004) para discutir a “morte do autor”, um elemento fundamental para uma
interpretação mais ampla por parte do leitor. Por último, destacamos o estilo epistolar adotado
por Peixoto em sua obra, razão pela qual consideramos relevante evocar a obra de Kafka
(1992), reconhecida por sua temática, estabelecendo paralelos e distinções significativas em
relação ao texto de Peixoto.