AVALIAÇÃO DO PERFIL LABORATORIALDE PACIENTES VÍTIMAS DE ACIDENTE OFÍDICO ATENDIDOS NO HOSPITAL DE PRONTO SOCORRO JOÃO XXIII, BELO HORIZONTE/MG
acidente ofídico; marcadores laboratoriais; hemostasia; soro antiofídico.
Dentre as espécies presentes na fauna brasileira, as serpentes dos gêneros Bothrops e Crotalus são responsáveis pela maior frequência de acidentes ofídicos em nosso país. Tais acidentes embora ainda negligenciados, constituem um grave problema de saúde pública. O veneno de serpentes é uma mistura complexa de toxinas, enzimas, ativadores e inibidores de fator de crescimento apresentando efeitos deletérios para as células. Dentre tais efeitos nocivos, as anormalidades hematológicas despontam como as mais comuns do envenenamento de serpentes, sendo a coagulopatia de consumo mais frequente e mais importante. Diante do exposto e devido à frequência e à potencial gravidade de acidentes ofídicos, além das dificuldades encontradas no manejo dos mesmos, o presente estudo teve como objetivo levantar a literatura referente aos principais acidentes ofídicos (Bothrops e Crotalus) em nosso país, além de conhecer o perfil laboratorial de vítimas de tais acidentes atendidas no Hospital de Pronto Socorro XXIII (HPS XXIII), em Belo Horizonte - MG, antes e depois do soro antiofídico. Dados clínicos e laboratoriais de rotina foram obtidos nos prontuários médicos dos pacientes. A partir dos dados do hemograma foram calculadas as seguintes razões/índices, a saber: RNL, RPL, RML, dNLR, SIRI, AISI e SII. A análise dos dados revelou que a grande maioria das vítimas foi do sexo masculino para os dois gêneros de serpentes, sendo os acidentes crotálicos os mais graves. Quanto aos parâmetros laboratoriais de rotina, nos acidentes botrópicos, o TP/RNI apresentou valor aumentado antes do soro, refletindo distúrbios hemostáticos. Da mesma forma, o TP/RNI também se mostrou aumentado nos acidentes crotálicos antes do soro possivelmente refletindo os baixos níveis de fibrinogênio. Quanto ao número de plaquetas, uma queda em seu número foi observada após o soro antiofídico. Antes do soro, observou-se também uma redução do HCM, o qual se elevou após o soro antiofídico. As razões/índices derivados de parâmetros do hemograma apresentaram resultados inconsistentes, não agregando valor aos dados de rotina. Os dados analisados em conjunto permitiram concluir que acidentes ofídicos, botrópicos ou crotálicos, estão associados a vários distúrbios laboratoriais, particularmente hemostáticos, de gravidade variada, porém potencialmente fatais; acidentes crotálicos, conforme esperado, se mostraram mais graves em comparação aos botrópicos; e o uso de soroantiveneno tende a normalizar os resultados dos exames laboratoriais, indicando evidente benefício aos pacientes. Diante do exposto, admissão rápida em serviço especializado para tratamento adequado em caráter de urgência, é mandatório.