CONHECIMENTO DOS CIRURGIÕES DENTISTAS FRENTE AOS DISTÚRBIOS HEMOSTÁTICOS E O IMPACTO NA PRÁTICA ODONTOLÓGICA

Odontologia, Diagnóstico Laboratorial, Anticoagulantes Orais de Ação Direta, Anticoagulantes, Hemostasia.

Introdução: Durante o atendimento odontológico, o desconhecimento por parte do cirurgião dentista (CD) quanto ao manejo pré-operatório do paciente com alguma predisposição/condição hemorrágica ou trombótica (esse último em uso de medicamentos para reduzir o potencial hipercoagulável), pode colocar em risco a saúde deste paciente. A prática odontológica com competência e segurança, exige conhecimentos que até então são pouco explorados por grande parte dos cirurgiões dentistas (CDs). A familiaridade com diversos exames laboratoriais que permitem avaliar a resposta hemostática de um indivíduo por meio da devida interpretação de seus resultados é essencial para o CD, uma vez que apresentam grande valor clínico. Objetivo: Descrever e investigar fatores associados ao conhecimento dos CDs do Estado de Minas Gerais sobre distúrbios hemostáticos, medicamentos anticoagulantes e antiagregantes plaquetários e sua abordagem laboratorial na prática odontológica. Métodos: Trata-se de um estudo transversal observacional descritivo envolvendo uma amostra de conveniência de CDs do Estado de Minas Gerais. Os participantes do estudo responderam um questionário que continha perguntas relacionadas às alterações hemorrágicas, exames laboratoriais e sua devida interpretação, uso de anticoagulantes orais (varfarina e aqueles de ação direta – DOACs) e antiagregantes plaquetários. O período de recrutamento dos participantes da pesquisa foi compreendido entre agosto e dezembro de 2021. Adicionalmente, foi realizada a validação do questionário, por meio do método Delphi. Também está sendo elaborado um manual de consulta rápida, para auxiliar os CDs em uma prática segura e previsível. Resultados: Para o presente estudo foram elegíveis 389 CDs, dos quais a maioria foi do sexo feminino (65,3%). Destes, maioria relatou não ter conhecimento sobre algumas coagulopatias e trombocitopatias, e que 77,9% e 57,1% solicitam apenas Tempo de sangria (TS) e Tempo de protrombina (TP), respectivamente, mesmo realizando procedimentos invasivos. A maioria (87,9%) já atendeu pacientes em uso de medicamentos que interferem na hemostasia, tais como anticoagulantes orais e antiagregantes, porém nunca enfrentaram um caso de sangramento inesperado pós- operatório (60,4%). A maioria dos participantes também relatou nunca ter observado petéquias orais e gengivorragia (70,5%). De acordo com o escore estabelecido, 313 (80,4%) participantes foram classificados com conhecimento fraco, 59 (15,2%) com conhecimento regular e 17 (4,4%) com bom conhecimento. Apesar dos CDs realizarem procedimentos invasivos, suas respostas revelaram um significativo desconhecimento sobre uso de anticoagulantes e exames laboratoriais para seu monitoramento. Na validação do questionário, a média das notas dos profissionais apresentaram valores superior a 7,0 (70,0%), indicando alto grau de concordância entre os painelistas. Conclusão: O conhecimento da amostra analisada de CDs acerca dos distúrbios hemostáticos e suas implicações na prática odontológica ainda parece ser insuficiente. Apesar dos participantes do estudo com especialização em implantodontia e cirurgia, e traumatologia bucomaxilofacial terem alcançado um bom desempenho, o conhecimento acerca do uso de anticoagulantes orais, assim como o seu devido monitoramento ainda parecem ser incipientes. O questionário foi validado, por apresentar nível de concordância acima de 70,0%, podendo ser aplicado em pesquisas futuras na área da odontologia.