A medicalização da COVID19 e a crise da autoridade científica
COVID-19; medicalização; Ulrich Beck; Michel Foucault; sociedade de risco
A medicalização é um fenômeno se refere ao modo como a vida cotidiana é apropriada pela medicina. Mais detalhadamente, a medicalização diz respeito ao modo como o saber médico adquire o poder de interferir na construção de conceitos, de costumes e de comportamentos sociais; afinal, ter saúde é condição necessária para o mundo do capital e do trabalho. Em virtude da crise de saúde gerada pela pandemia COVID-19 (Corona Virus Disease 2019), o fenômeno da medicalização foi potencializado; com isso, o poder do conhecimento médico integrou quase todos aspectos da vida em sociedade, resultando em incontáveis mudanças no cotidiano de milhões de pessoas ao redor de todo o globo. Com o intuito de aumentar o entendimento da ampliação do poder médico promovido por esse novo cenário, o presente trabalho busca responder a três questões sobre o tema medicalização. Utilizando a perspectiva de alguns dos principais estudiosos do tema, tais como Michel Foucault, Ivan Illich e Peter Conrad, dentre outros estudiosos que recentemente têm se debruçado sobre o tema, a primeira questão a ser trabalhada tenta esclarecer como o próprio termo medicalização tem sido compreendido na prática contemporânea. A segunda questão a ser respondida visa elucidar como a sociedade passou a legitimar a atuação da medicina para além de seu espectro de atuação tradicional, para isso introduz-se alguns dos principais estudos do pensador Michel Foucault, empreendidos ainda na década 1970, sobre a escalada do desenvolvimento médico e sanitário das sociedades europeias ao longo dos últimos séculos. Por último, a terceira questão buscará compreender quais obstáculos a chamada sociedade de risco impõe aos processos de medicalização, recuperando o arcabouço teórico proposto por Ulrich Beck.