Análise espaço-temporal das leishmanioses no Brasil no século XXI e a influência da população humana na

distribuição espacial de cães irrestritos em um município de Minas Gerais

As leishmanioses são um complexo de doenças negligenciadas, cujas manifestações clínicas dependem das espécies causadoras da infecção. A presença de vetores e de animais reservatórios contribui para a manutenção da doença. Ferramentas de geoprocessamento e análises estatísticas possibilitam o monitoramento e o controle dessas doenças. O objetivo desta tese foi analisar o padrão da distribuição das taxas de incidência de Leishmaniose tegumentar (LT) e Leishmaniose visceral (LV) humana entre os anos de 2001 e 2020 e identificar clusters de maior risco de ocorrência nos municípios brasileiros. Além disso, com o intuito de compreender a dinâmica de animais reservatórios da leishmaniose visceral, foi analisada a influência da população humana na distribuição espacial dos cães irrestritos em uma região endêmica de Leishmaniose visceral canina (LVC). Os dados referentes a analise espacial das leishmanioses nos municípios brasileiros são provenientes do Sistema de Notificações e Agravos – SINAN, entre os anos de 2001 a 2020. Os dados referentes aos cães irrestritos foram obtidos por meio de procedimentos de captura e recaptura fotográficas em uma área endêmica de LVC no município de Divinópolis – Minas Gerais, Brasil. As análises estatísticas aplicadas foram o Índice de Moran Global e Local (LISA), a estatística de varredura espacial (SatScan), a matriz de distância linear, a análise do vizinho mais próximo, o mapa de calor (Kernel) e a função k. No estudo sobre as leishmanioses em municípios brasileiros, a LV apresentou taxa de incidência de 33,53 casos por 100.000 habitantes, aumento na quantidade de municípios com casos notificados ao longo do período e maior concentração de municípios prioritários nos estados do Tocantins, Maranhão, Piauí, e Mato Grosso do Sul. Já a LT apresentou taxa de 11 casos por 100.000 habitantes, uma leve tendência de queda na quantidade de municípios que notificaram casos e concentração de municípios prioritários nos estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Amapá, Roraima, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e Pará. No trabalho sobre a população de cães irrestritos, foram realizadas 1207 capturas e recapturas, que envolveram 554 cães. Foram registrados 151 comedouros e 124 comércios de alimentos. Em todas as capturas foram observadas maiores aglomerações caninas em regiões com a presença de fontes de alimentos. Identificou-se a existência de autocorrelação espacial positiva em até 500m entre a distribuição espacial dos cães irrestritos e a localização dos comedouros e comércios alimentícios. No geral, os cães se localizaram significativamente (P<0,01) mais próximos dos comedouros (mediana de 1.2km), do que dos comércios de alimentos (mediana de 1.4km). As áreas com casos de leishmaniose identificadas são úteis para a compreensão da dinâmica espacial no país, as regiões apresentadas como prioritárias devem ser priorizadas em ações de controle. Além disso, elucidar a ecologia dos cães irrestritos e suas interações em meio urbano, possibilita o aprimoramento de estratégias voltadas ao bem-estar animal e à prevenção de zoonoses.