DIÁLOGO ABERTO E INTERVENÇÃO NA CRISE PSÍQUICA: ESTUDO DE CASO EM UM CAPS
Saúde Mental, Boas Práticas, Família, Rede Social, Diálogo Aberto.
O Diálogo Aberto (DA) é um modelo de atenção imediata à crise psicótica e a outras
crises psíquicas, em que o cuidado é ofertado nas primeiras 24 horas do primeiro contato com
o serviço de crise. Nesta abordagem, usuário, família e rede social do usuário são convidados
a participarem de todo processo de tratamento. Abrange um conjunto de práticas diferenciadas
das convencionais. Analisamos e descrevemos as atividades do CAPS I do município de
Carmo do Cajuru/MG sobre as práticas inovadoras em saúde mental, com foco na
implementação da abordagem baseada no DA. Justifica-se pela escassez de estudos sobre a
abordagem no país e pela necessidade de estudos que abordem as abordagens
desmedicalizantes. Utilizamos metodologia qualitativa do tipo estudo de caso. Realizado
análise documental utilizando dados secundários dos prontuários daqueles usuários
acompanhados com o DA, tanto em primeira crise psíquica quanto em reagudizações, no
período de 01/01/2021 a 31/12/2021. Feito entrevistas com os profissionais que atuaram
segundo a abordagem nesse mesmo período, totalizando 12 entrevistas. Analisados 20
prontuários de usuários em primeira crise e 17 em reagudizações. A análise das entrevistas foi
realizada através do Mapa de Associação de Ideias e feita triangulação dos dados. Do total de
37 usuários acompanhados com o DA, 54,1% estavam em primeira crise psíquica e 45,9% em
processo de reagudização. Das primeiras crises, as Tentativas de Autoextermínio
representaram 25% dos casos e 35,3% nas reagudizações. As crises psicóticas foram a causa
de 10,8% nas primeiras crises e 11,8% nas reagudizações. Oitenta porcento das primeiras
crises estabilizaram em até 03 meses e 41,1% das reagudizações estabilizaram nesse mesmo
período de tempo. Em relação ao uso medicamentoso, os psicotrópicos foram utilizados em
27,8% daqueles que estavam em primeira crise, sendo desprescrita em 80% desses casos. Da
análise das entrevistas emergiram 04 categorias: O início; A continuidade; Desdobramentos
do DA; Grupo Ouvidores de Vozes e Suporte Interpares, com seus respectivos temas.
Considera-se que as práticas inovadoras em saúde mental, com foco no DA, foram
implementadas com desafios e dificuldades inerentes ao cuidado em saúde mental e às
mudanças provocadas na assistência marcada pela psiquiatria tradicional. Notou-se uma
esperança reavivada nos relatos e, principalmente, na expectativa de ver uma saúde mental
onde o Nada de nós, sem nós seja realmente uma realidade possível e não uma mera utopia de
teóricos desvinculados da prática diária