INCIDÊNCIA DE TUBERCULOSE PULMONAR E CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS NOS ESTADOS DA REGIÃO SUDESTE DO BRASIL
Tuberculose pulmonar. Determinantes sociais. Análise espacial.
Introdução: Apesar da redução global nas taxas de infecção e mortalidade a tuberculose (TB) ainda figura entre os principais problemas de saúde pública com aproximadamente ¼ da população mundial infectada pelo M. tuberculosis e uma das dez principais causas de morte por um único agente infeccioso. Neste cenário, apesar dos esforços, metas para redução de morbimortalidade por TB não serão alcançadas no Brasil. Dada a importância de se investigar os fatores associados à incidência de TB pulmonar, a hipótese deste trabalho diz respeito à limitação de indicadores sociais, especialmente Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Índice de Gini (IG), em predizer taxas de incidência por TB pulmonar em nível de agregação municipal. Objetivo: analisar a correlação espacial entre incidência de TB pulmonar, IDH, IG e outros indicadores socioeconômicos na região sudeste do Brasil. Metodologia: Trata-se de estudo ecológico analítico misto com séries temporais e agregação espacial nos municípios (unidade de análise) daquela região no período de 2010-2019 que, por sua vez, foi subdividido em dois outros: 2010-2014 e 2015-2019, para que houvesse comparação entre consolidados do primeiro com o segundo período. Foram utilizados métodos de suavização espacial para estimadores de incidência de TB, Índice Global de Moran e Indicador Local de Associação Espacial (LISA) univariado e bivariado e análises espaço-temporais com estatísticas de varredura SatScan para detecção de clusters e risco relativo (RR) para ocorrência da TB pulmonar. Também foram utilizadas técnicas de regressão espacial. Mapas temáticos foram construídos para análise de resultados. Resultados: Com nível de significância de 5% o LISA bivariado, o Índice Moran (I) mostrou autocorrelação positiva entre incidência de TB e IDH (I= 0,349), renda per capita (I = 0,266), ensino médio completo (I = 0,323) e aglomeração intradomiciliar (I=0,093). Houve autocorrelação negativa para IG (I = 0,144), mortalidade infantil (I = 0,182), índice de Theil-L (I = 0,156) e proporção de extremamente pobres (I = 0,125). Na análise espaço-temporal foram identificados 16 clusters prováveis (p valor < 0,05) principalmente no estado de São Paulo. O cluster mais provável (cluster nº 1) está situado na região litorânea mais ao sul do Rio de Janeiro (RR = 2,37) período de 2015 - 2019. O cluster de maior risco relativo (RR = 13,96) está situado na região centro-oeste de São Paulo no período de 2014 a 2018. Na regressão espacial o GWR (regressão geograficamente ponderada) obteve resultados significativos (p <0,05) para índice de Theil dos rendimentos do trabalho, índice de Gini, aglomeração intradomiciliar e IDH municipal com a maior incidência de TB sendo associada à piora dos indicadores sociais em algumas regiões. O modelo da regressão espacial (R²) chegou a explicar entre 46% e 77% da variação de casos de TB em algumas regiões que se concentraram principalmente ao norte de Minas Gerais e fronteira com São Paulo (mais ao sudoeste), estado do Espírito Santo, maior parte do estado do Rio de Janeiro e região oeste, São Paulo na região central e fronteiriça com Minas Gerais. Maior incidência de TB pulmonar foi autocorrelacionada a melhores condições de desenvolvimento humano e renda e mais fracamente à aglomeração intradomiciliar, menor desigualdade, menor mortalidade infantil e proporção de extremamente pobres. Conclusão: Foi encontrada associação espacial entre incidência mais elevada de TB pulmonar em regiões com melhores indicadores de desenvolvimento humano e maior desigualdade social indicando uma possível limitação da maioria dos indicadores analisados em predizer a ocorrência de TB pulmonar nos municípios da região sudeste excetuando-se a aglomeração intradomiciliar que foi associada à maior incidência de TB