Iluminismo em Portugal: a abordagem filosófica do índio em O Uraguay de Basílio da Gama
Iluminismo; Ética; Filosofia Política; Indigenismo; Basílio da Gama; Pombal.
O poema O Uraguay, publicado em Lisboa, em 1769, contextualiza-se no Iluminismo português e europeu, para os quais oferece contribuição original. O Iluminismo em Portugal teve seu auge no reinado de D. José I e caracterizou-se pelo absolutismo real, manifestado sob a forma de despotismo esclarecido, desempenhado, na prática, pelo Marquês de Pombal. O período foi marcado pela perseguição aos jesuítas e pelas reformas do sistema e métodos de ensino em Portugal, no esforço de modernização do país. Nesse contexto, o tema do indigenismo, sob o viés filosófico, que então se debatia em outros países da Europa, não teve repercussão entre os pensadores portugueses. O poeta José Basílio da Gama, empenhado na propaganda e defesa da política pombalina, utiliza-se de seu poema para esse fim, mas oferece argumentação paralela, que se aproxima do debate pró-indigenista, para o qual também oferece contribuição original. O índio brasileiro apresentado em O Uraguay, não é superior e nem inferior ao homem civilizado, como se questionavam os filósofos europeus, ele é igual em valentia e capacidade racional. Em O Uraguay, o índio argumenta com a razão natural contra o representante do Rei, que utiliza a razão de estado para justificar sua ação colonialista. Desta forma, ao valorizar a figura do índio brasileiro e a sua cultura nativa, colocada em confronto com a do invasor europeu, o poeta inseria Portugal no debate filosófico do pró-indigenismo, e oferecia contribuição original a esse debate ao valorizar a figura do índio como homem brasileiro, dotado de senso de pertencimento à terra e defensor legítimo de sua cultura ancestral.