Shakespeare e Ovídio. Sonho de uma Noite de Verão e as Metamorfoses.
Shakespeare e Ovídio. Transtextualidade. Comédia elisabetana. Arthur Golding.
Sonho de uma Noite de Verão (c. 1595) é amplamente considerada a mais ovidiana das peças de Shakespeare. Em seu enredo secundário, Peter Quince e um grupo de atores diletantes preparam e encenam uma canhestra adaptação teatral do episódio de Píramo e Tisbe, do livro quatro das Metamorfoses de Ovídio. Críticos já observaram que essa peça dentro da peça espelha a ação da camada principal da obra, porém a fuga do par de casais é apenas um dos muitos elementos na peça – incluindo aí até mesmo uma transformação física – que remetem às Metamorfoses. Esta dissertação analisa as relações transtextuais (GENETTE, 1982) entre Sonho de Verão e as Metamorfoses, comparando as práticas hipertextuais da peça dentro da peça com a intertextualidade que a camada principal estabelece com Ovídio. Dado o espelhamento entre a camada principal e o interlúdio, pode-se dizer que este representa uma variação cômica do ovidianismo que se manifesta no restante da peça. O texto de Quince não apenas inclui erros de tradução do episódio de Ovídio, mas é também um pastiche de Shakespeare de um estilo, ainda rudimentar, do início do período elisabetano. Por outro lado, o cerne de Sonho de Verão não é uma transposição direta de Ovídio, mas inclui vários elementos das Metamorfoses em sua linguagem, enredo, ambientação, imagens e personagens. A dissertação também contextualiza as relações entre Shakespeare e Ovídio dentro da voga ovidiana na literatura inglesa dos anos 1590 e do movimento tradutório do início do período elisabetano, com ênfase na tradução de Arthur Golding das Metamorfoses publicada em 1567.