NARRATIVA E MEMÓRIA EM A NOITE DAS MULHERES CANTORAS, DE LÍDIA JORGE
narrativa; memória; identidade; regresso
Este trabalho tem como objetivo o estudo do romance A noite das mulheres cantoras, da escritora portuguesa Lídia Jorge. Na obra que narra sobre a criação e fim da banda ApósCalipso no final da década de 1980, observamos que ao contar sobre a sua vida e das outras quatro integrantes desse projeto musical, a narradora Solange de Matos dialoga com a história recente de Portugal, em especial com a questão do regresso dos colonos que vivam em África e retornam ao país entre 1974 e 1979 com a independência das antigas Colônias. Na narrativa somos guiados por Solange que depois de mais de vinte anos sente a necessidade de relatar os acontecimentos de sua juventude, de desencantar a versão do passado apresentado por Gisela Batista, a maestrina, em um programa televisivo. O leitor tem acesso, assim, às interpretações de Solange sobre o passado, em uma narrativa organizada de modo a desmascarar Gisela e expiar o seu envolvimento na morte de Madalena Micaia. Com o relato de Solange temos acesso a uma perspectiva íntima do regresso, que contempla uma “realidade” que a narrativa criada pelo Estado ignora. Assim, pretendemos com a fundamentação teórica de Benjamin (1987; 2018) e Gabnebin (2018) analisar essa narradora que relata pequenos acontecimentos, que narra movida pela vontade de não deixar nada se perder, e que ao fazê-lo testemunha sobre um tempo, um povo. Para estudarmos a construção dessa narrativa sobre a memória de um período temos como aporte teórico Pollak (1989;1992) e Halbwachs (2203) e seus ensinamentos sobre memória individual e coletiva, bem como essas influenciam na construção das narrativas de identidades.