O HOMEM NEGRO EM CANÇÃO PARA NINAR MENINO GRANDE E “ANA DAVENGA”, DE CONCEIÇÃO EVARISTO: UMA VISÃO MULTIFACETADA DA MASCULINIDADE
masculinidade hegemônica; negro; estereótipos; identidade
O objeto de estudo deste trabalho concentra-se em dois personagens masculinos negros: Fio Jasmim, do romance Canção para ninar menino grande (2022), e Davenga, do conto “Ana Davenga”, presente na coletânea Olhos d’água (2018), ambos da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo. A pesquisa propõe investigar a masculinidade hegemônica atribuída ao homem negro como uma construção cultural profundamente enraizada em processos históricos de colonização e escravidão. Esses processos configuraram uma percepção estereotipada da masculinidade negra, associando-a à força bruta, hipersexualização, violência e agressividade, ao passo que suprimem dimensões como a afetividade, vulnerabilidade e fragilidade emocional. Essa construção, perpetuada pelo racismo estrutural, restringe as possibilidades de expressão subjetiva do homem negro, aprisionando-o a padrões que reforçam desigualdades e exclusões. No romance, Fio Jasmim constrói e performa sua masculinidade por meio de uma imagem de virilidade e sedução em relação às mulheres, ajustando-se a expectativas sociais que desautorizam a expressão de suas emoções e vulnerabilidades. Já Davenga, um morador de favela e líder de um grupo que pratica crimes, apresenta uma masculinidade construída a partir da força, do domínio e da agressividade, reflexos de sua posição marginalizada na sociedade. No entanto, sua performance de masculinidade ultrapassa esses aspectos, revelando um lado emocional mais aflorado, que desafia estereótipos convencionais. Para alcançar os objetivos, o estudo será desenvolvido em duas etapas. A primeira etapa consistirá em uma discussão sobre as experiências do homem negro na sociedade pós-colonial brasileira do século XXI, considerando os impactos históricos e estruturais do racismo e suas implicações no contexto contemporâneo. Na segunda etapa, será problematizado o entrecruzamento de raça, gênero e classe na construção das masculinidades. Para estas serão considerados os personagens em seus respectivos contextos sociais e como essas dinâmicas influenciam suas atuações e reproduzem relações de poder e subordinação. O embasamento teórico da pesquisa será interdisciplinar, ancorado em autores que abordam questões de raça, gênero e masculinidades. Entre eles estão Frantz Fanon (Pele negra, máscaras brancas, 2008), Pierre Bourdieu (A dominação masculina, 2012), Judith Butler (Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade, 2018), Achille Mbembe (Crítica da razão negra, 2018), W.E.B. Du Bois (As almas do povo negro, 2021), Raewyn Connell (Masculinidades, 2005) e bell hooks, com A gente é da hora: homens negros e masculinidades (2022) e A disposição para mudar: homens, masculinidade e amor (2004).