CLÍNICAS DE RECUPERAÇÃO E DIFERENÇAS DE GÊNERO: UMA ANÁLISE DO PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E DO TRATAMENTO MASCULINO E FEMININO DA DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
Comorbidade, Abuso de Drogas, Farmacoterapia, Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias, Drogadicção.
O abuso de substâncias psicoativas é considerado um grave problema de saúde pública presente em vários países do mundo, inclusive no Brasil. Suas consequências afetam vários setores da sociedade, incluindo saúde, educação, assistência social, segurança pública, sistema de justiça e outros. Desta forma, é justificável a realização de estudos neste momento, buscando conhecer aspectos relacionados a indivíduos dependentes de substâncias psicoativas. Neste sentido, o objetivo da pesquisa é analisar as diferenças no tratamento da dependência de substâncias psicoativas entre pacientes do sexo masculino e feminino em clínicas de recuperação, com foco nos perfis sociodemográficos, farmacoterapêuticos e na frequência de reinternações. Trata-se de estudo descritivo, com abordagem transversal, delineado conforme diretrizes propostas pelo Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE), realizado por meio de dados coletados de prontuários multidisciplinares de pacientes internados entre janeiro de 2020 a dezembro de 2021, e reinternados entre janeiro de 2020 a dezembro de 2023. O banco de dados foi elaborado no Excel e, posteriormente, exportado para o software estatístico Statistical Package for the Social Sciences 25 (SPSS). No total, foram avaliados 349 prontuários, e após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 219 prontuários. O perfil sociodemográfico dos pacientes do sexo masculino foi predominantemente de solteiros (57,7%), com 30 a 39 anos, com 10 a 12 anos de estudo (49,2%), com fonte de renda própria (78,1%), católicos (46%), com pelo menos 1 filho (54%), moravam com familiares (58,1%) e residiam na região central de Minas Gerais (63,6%). Já o perfil sociodemográfico das pacientes do sexo feminino foi de solteiras (43,9%), com 40 a 49 anos, com mais de 12 anos de estudo (45,1%), com fonte de renda própria (74,4%), católicas (41,6%), com pelo menos 1 filho (69,1%), moravam com familiares (70,7%) e residiam na região central de Minas Gerais (68,3%). Em relação às internações, ambos os sexos estavam em sua maioria em internações involuntárias (M:58,4%; F:62,2%) que duraram entre 91 a 180 dias (M: 56,2%; F:57,3%) e eram dependentes principalmente de álcool (M:70,1%; F:79,3%), tabaco (M:63,5%; F:65,9%) e cocaína (M:47,4%; F:34,1%). A farmacoterapia foi predominantemente composta por antidepressivos, benzodiazepínicos e antipsicóticos em ambos os sexos, com uma média mais alta de medicamentos prescritos por paciente entre as mulheres. Além disso, observou-se maior ocorrência de reinternações entre os homens (M:24,1%; F:11,0%). Tais informações podem subsidiar políticas governamentais que incentivem uma maior integração entre as clínicas de recuperação e os componentes da rede de atenção psicossocial, favorecendo a continuidade do tratamento especializado após a alta e reduzindo, assim, o risco de reinternações. Esses resultados também podem apoiar o desenvolvimento de abordagens mais individualizadas e orientadas por gênero, promovendo um cuidado mais eficiente e humano para pacientes com dependência de substâncias psicoativas.