OUTRAS VOZES DA NAÇÃO EM O VENTO ASSOBIANDO NAS GRUAS
Nação. Corpo. Literatura. Pós-colonialismo. Colonialismo.
As narrativas que elegeram Portugal como comunidade imaginada levaram em conta a concepção do país como império, que contava com colônias em diferentes continentes, assim a literatura desempenhou um importante papel enquanto cultura nacional. Porém, na contemporaneidade, a literatura portuguesa apresenta-se como possibilidade de revisitação à memória e se abre para as novas demandas do mundo globalizado. Diante disso, esta dissertação realiza um estudo do romance O vento assobiando nas gruas (2002), de Lídia Jorge. Procura-se refletir sobre a nação portuguesa a partir do diálogo entre algumas das vozes que a compõe no cenário pós Revolução dos Cravos, tendo como foco a protagonista Milene Leandro, sua oligofrenia, seu corpo mutilado e a proximidade com os Mata, família de cabo-verdianos em Portugal. Com base em reflexões sobre a nação moderna e o contemporâneo, principalmente em Homi Bhabha (1998), e acerca das especificações de identidade, colonialismo e pós-colonialismo portugueses, em textos de Eduardo Lourenço (1999, 2001 e 2014) e Boaventura de Sousa Santos (1994, 1999, 2003), bem como de pressupostos da decolonialidade, em Walter Mignolo (2017), intentamos pensar o imaginário nacional português. Além disso, discutiremos a violência contra o corpo da protagonista como metáfora de uma nação que transita entre o desejo de resguardar a memória coletiva e as exigências do contexto contemporâneo.