“CLIQUE @QUI PARA O HIV”: FORMAS CONTEMPORÂNEAS DE DIFUSÃO PROPOSITAL DO VÍRUS NO BRASIL

 

Resumo: Atrelada inicialmente a grupos estigmatizados como homossexuais, haitianos e profissionais do sexo, o cenário que o HIV atualmente, após quatro décadas, ultrapassa inúmeras delimitações no espaço concreto e perfis que no passando foram apontados como os principais vetores de transmissão do vírus. Junto a isso, emerge, a partir da segunda década do século XXI, um coletivo de indivíduos constituído de homens que fazem sexo com outros homens (HSH) que possuem como princípios, a transmissão proposital consensual e não consensual do HIV, conhecido assim como o Clube do Carimbo. Esses homens vivem com HIV e renunciam a tratamentos para o vírus, difundindo por diversos ambientes do espaço concreto da cidade, como bares, praças, saunas, apartamentos em festas fechadas com o consentimento ou não dos parceiros que eles se envolvem. Apesar de o fenômeno ser pouco conhecido e pouco discutido na sociedade e na literatura brasileira, esta dissertação contemplou como base principal a espacialização do Clube do Carimbo na rede, em que foi possível catalogar 15 grupos e contemplar mais de 1.500 homens envolvidos com essa prática. Nesse contexto, destacamos o papel substancial do ciberespaço, dado ao exposto que esse universo veio a se tornar uma ferramenta de comunicação essencial presentemente. Além disso, a interação desses HSH na rede proporciona além da troca de experiência narrada por mensagens e “emojis”, encontros sexuais e casuais em que é possível averiguar por meio da análise do discurso um emaranhado de relações que tangem esses sujeitos, bem como seus comportamentos e práticas sexuais que circulam nesse fenômeno. Por fim, gostaríamos de mencionar que com o intuito de preservar o anonimato dos sujeitos envolvidos e mantendo a ética profissional do pesquisador, nenhum dado exposto aqui procura identificar esses homens. Compreendemos a riqueza deste trabalho para a ciência e como se trata de um tema muito delicado, não estamos aqui levantando e reforçando a bandeira do preconceito e do estigma. Apenas estamos evidenciando um fenômeno que ocorre na sociedade e que muitos desconhecem ou preferem ignorar.