INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS (IBPs) E ALTERAÇÃO DA FUNÇÃO COGNITIVA EM 4 ANOS: ESTUDO LONGITUDINAL DE SAÚDE DO ADULTO (ELSA-Brasil)
Inibidores da bomba de prótons; Função cognitiva; Função renal.
Investigar se o uso de inibidores da bomba de prótons na linha de base está associado à diminuição do desempenho em testes de memória, linguagem e função executiva e da função renal após cerca de quatro anos de seguimento em participantes do ELSA-Brasil. Métodos: Esta presente tese de doutorado foi desenvolvida na coorte ELSA-Brasil, composta por 15.105 servidores públicos (ativos ou aposentados), de instituições de ensino superior ou de pesquisa localizadas em seis capitais brasileiras, utilizando dados da linha de base Onda 1 (2008-2010) e seguimento Onda 2 (2012-2014). O uso de inibidores da bomba de prótons (IBP) foi avaliado na linha de base e os participantes foram orientados a levar ao centro de pesquisa todos os medicamentos (prescritos ou não) usados nas últimas duas semanas, relatando também o tempo de uso de cada medicamento. Na avaliação do desempenho cognitivo foram utilizados os testes de memória e fluência verbal presentes na bateria neuropsicológica CERAD (Consórcio para Estabelecer um registro para a Doença de Alzheimer) adaptada à população brasileira e o Teste de Trilha (versão B) na Onda 1 e 2. A avaliação da diminuição da função renal foi verificada por meio da taxa de filtração glomerular estimada (eTFG) usando a equação da Colaboração da Epidemiologia da Doença Renal Crônica, sendo que os níveis inferiores a 60 ml/min/1,73 m2 foram considerados como diminuição da TFG, na Onda 1 e 2. Foram utilizados modelos de regressão linear de efeito misto para avaliar as mudanças longitudinais no desempenho cognitivo e diminuição da função renal entre a Onda 1 e 2. O trabalho foi dividido em duas partes, sendo cada parte correspondente a um artigo científico com objetivos independentes. Resultados: Na avaliação do desempenho cognitivo, após os ajustes, o termo de interação uso de IBP × idade não foi estatisticamente significativo para os testes cognitivos avaliados, e em nenhuma das categorias de tempo de uso do medicamento, indicando que o uso de IBP no início do estudo não foi associado a um declínio mais acelerado no desempenho cognitivo entre as ondas. Na avaliação da diminuição da função renal o uso regular de IBP no início do estudo não está associado à doença renal crônica (DRC) incidente após ajuste por fatores de confusão, mas está associado à redução da eTFG padronizada avaliada entre a Onda 1 e 2. O tempo de uso do IBP de um a três anos está associado à incidência de DRC e o tempo de uso do IBP menor que um ano e acima de três anos associado à redução da eTFG. Análises adicionais foram realizadas e verificaram uma associação entre o uso de IBP e o maior risco de mortalidade. Conclusão: Os resultados desta tese quanto a ausência de associação entre o uso de IBP e o declínio da função cognitiva não devem ser interpretados como ausência de associação definitiva, pois o intervalo relativamente curto entre as visitas pode ter impactado ao analisar o declínio cognitivo em uma coorte jovem. Os resultados quanto a associação do uso e tempo de uso de IBP na redução da função renal demonstram a necessidade de se educar os profissionais de saúde para aumentar a conscientização e reduzir a prescrição e uso excessivo de IBP. Nossos resultados contribuem para a vigilância pós-comercialização desses medicamentos, uma vez que os resultados ainda são recentes, escassos e discordantes.