A presente dissertação é um estudo das Identidades,  representações e das práticas de devoção a Beata Francisca de Paula de Jesus ( Nhá Chica) no distrito de Rio das Mortes Pequeno, pertencente a cidade mineira de São João del Rei, como se correlaciona com a formação da Identidade religiosa nacional brasileira no período colonial, bem como o surgimento de santos nacionais, com intensão de identificar uma possível conexão entre o processo de identidade nacional brasileira com a identidade católica, construção de memória coletiva e relação entre Igreja e estado.Com base nisso a pesquisa busca analisar através da memória e da prática da história oral, como o processo de identidade à respeito da Beata teve início na comunidade e influenciou na construção de um conjunto de representações a esse respeito.

O presente trabalho aborda a transição da Fazenda da Carapuça, uma propriedade escravocrata localizada na região das Vertentes, em Minas Gerais, para a formação da comunidade negra rural de São Pedro da Carapuça no início do século XX. Por meio da análise de documentos históricos, tradições orais e registros eclesiásticos, a pesquisa reconstrói a trajetória das pessoas escravizadas e de seus descendentes que se encontraram na terra após a abolição. O estudo destaca o papel da doação de terras feita pelo proprietário Américo José de Castro, os desafios enfrentados na formação da comunidade e a persistência da identidade e da herança cultural entre os remanescentes quilombolas. O estudo buscou compreender como os ex-escravizados lidaram com o período pós- abolição, negociaram sua autonomia e afirmaram seu direito à terra. O trabalho também examina o contexto social e econômico da escravidão na região, detalhando a estrutura fundiária da Fazenda da Carapuça e as relações entre senhores e escravizados, com base em registros que revelam a posse de terras, bens e mão de obra cativa. A partilha dos bens da família Pinto de Barros, antigos proprietários da fazenda, é um dos aspectos centrais da pesquisa, permitindo identificar os escravizados que viveram na propriedade e estabelecer possíveis conexões genealógicas com os atuais moradores da comunidade. Ao reconstituir essa trajetória, o trabalho contribui para o entendimento das dinâmicas sociais do pós-abolição e das estratégias adotadas pelos ex-escravizados para garantir sua autonomia e pertencimento territorial. A pesquisa evidencia como a permanência na terra foi fundamental para a manutenção dos laços comunitários e para a preservação da história.

O presente trabalho busca compreender e analisar as mulheres processadas por sodomia na primeira visitação inquisitorial as partes do Brasil, partindo a ótica dos estudos de gênero colaborando assim para a construção da história das mulheres no Brasil colônia. A sodomia, apesar de ser um delito pensado a partir de corpos masculinos que gerava uma série de incompatibilidades ao corpo feminino, foi utilizado como termo para julgar relações homoeróticas feminina. A definição problemática do delito de sodomia fez com que muitas mulheres escapassem das garras inquisitoriais tendo suas relações homoafetivas compreendidas como molícies. A perseguição ao delito também fez parte da empreitada colonizadora portuguesa de expansão do reino e da fé católica, nesse sentido a igreja católica buscou formas de controlar as ações e corpos de seus fiéis respaldados pela moralidade cristã. Para compreender tais práticas foram analisadas a documentação inquisitorial produzida pela expedição do licenciado Heitor Furtado de Mendonça, na sua etapa baiana - 1591-1593 - particularmente as denúncias contra mulheres que geraram processos por tais práticas, totalizando cinco mulheres processadas.  

O presente trabalho analisa as influências que tiveram as políticas públicas de educação em Moçambique no que  concerne as reformas curriculares e o contributo do Ensino de História, no período após  independência (1975) até aos dias atuais. Para tal, recorreu-se à pesquisa descritiva, à pesquisa  qualitativa e a pesquisa bibliográfica. A abordagem teórica baseou-se nos pontos de vista de  Basílio (2006); Barbosa (1998); Bittencourt (2004); Gonçalves (2007); Rusen (1997), Jamal  (2019) e Schmidt et al. (2009), que possibilitaram e conjugadas com os dados consultados  atraves das bibliografias a nivel das bibliotecas do Brasil e de Moçambique podemos concluir  que o processo educativo em Moçambique teve como base três instrumentos que serviram  como marco legal que fizeram com que o governo pudesse construir um Sistema Nacional de  Educação (SNE), capaz de responder aos desafios das mudanças do país, desde 1975 até hoje,  são eles: Lei nº 4/83, de 23 de março, Lei 6/92 de 6 de maio e a Lei n.º 18/2018 de 28 de  dezembro. Neste caso, o Sistema Nacional da Educação (SNE) em Moçambique pode ser  dividida em quatro momentos: Educação pós independência, antes do SNE de 1975-1982;  Introdução do Sistema Nacional de Educação de 1983 até 1991; Reforma do Sistema Nacional  de Educação de 1992-2017 e a Lei nº 18/2018, O Sistema Nacional Educação (Lei vigente).  Dizer que, Nos primeiros anos após a independência o Sistema Nacional da Educação, tinha  quatro níveis: Primário, Secundário, Médio e Superior. Em seguida entra em vigor a primeira  lei do sistema nacional de educação sub artigo 4 da Lei 4/83 de 23 de março, que estabelecia  os seguintes objetivos gerais: Formar cidadãos com uma solida preparação política, ideologia,  cientifica, técnica, cultural e física e uma elevada educação patriótica e cívica; Erradicar o  analfabetismo de modo a proporcionar a todo povo o acesso ao conhecimento científico e o  desenvolvimento pleno das suas capacidades; Introduzir a escolaridade obrigatória e universal  de acordo com o desenvolvimento do país, como meio de garantir a educação básica a todos  os jovens moçambicanos, etc. No que concerne ao Material Didático em Moçambique no pós  independência, houve a insuficiência de material didático, onde, o presidente da republica (na  altura) Samora Machel tendo ordenado aos seus compatriotas que a educação pudesse  funcionar com material improvisado. No que concerne ao ensino gratuito em Moçambique  abrange propinas, taxas e emolumentos, relacionados com a matrícula, frequência e  cerificação, livros didáticos e outras despesas são assumidas pelo Estado. No que concerne o  Ensino de História ao Longo das Reformas, depois de Alcançar a Independência, em 1975, a  preocupação do governo moçambicano pautou-se na reconstrução de um currículo que  pudesse adequar-se às novas condições que pudessem atingir as necessidades práticas e  culturais do povo moçambicano e aquilo que a FRELIMO escreveu, sobretudo, o  nacionalismo moçambicano devia fazer parte da História de Moçambique: quem somos nós,  donde viemos e sobretudo o que nós éramos. Portanto, resgatar o passado moçambicano em  associação aos fatos mais atuais. Os Grandes Desafios da Educação em Moçambique na  atualidade e a expansão do sistema educativo de qualidade em todos os níveis, com particular  realce para o pré-escolar e o nível pós-Primário; a formação e colocação de  formadores/professores para a eficaz implementação curricular, incluindo a nível da  modalidade de Ensino Bilíngue, etc.

Resumo: O presente projeto de dissertação de mestrado tem como principais eixos em analise a Sociedade Bayaka em Angola: origem, estrutura e tradição oral, do século XVI aos dias atuais. Ao longo da nossa pesquisa procuramos responder a seguinte questão: como foi construído o conceito Yaka/Jaga ao longo dos tempos, sobretudo, por não ter sido enquadrado no povo kongo, kimbundu e lunda tchokwé pelos estudiosos europeus e não só, que se fizeram na região do médio Kwango na África Central e Ocidental? Objetivando descrever como a sociedade bayaka ou mayaka vem sendo construída historicamente ao longo dos tempos. Ao reavaliarmos o conceito Yaka, iaca ou jaga proporcionou melhor compreensão da estrutura horizontal patriarcal desta sociedade bakongo yaka, que foi escarnecida pelos europeus exploradores e cronistas, militares e missionários, que se fizeram nas terras de Angola, mostrando evidencias acerca da existência desta população bakongo Bayaka, na região do Kwango e Alto zaza, liderada atualmente pelo M´fumu Kyanvu Muata Uta Kabamba VII, auxiliado por Swa, Kilolas e Kaxalas. O presente projeto se fundamenta basicamente em pesquisa bibliográfica, subdividida em primeiro grupo composto por obras de autores clássicos (séculos XVIII e XIX) aos mais modernos do século XXI, referente à bibliografia primária; o segundo grupo é composto por obras referentes a bibliografia complementar.

Nos anos finais da ditadura militar (1974-1985), a Igreja Católica, influenciada pela teologia da libertação, se tornou uma das principais vozes contrárias as violações de direitos humanos e injustiças sociais. A instituição, representada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), passou a realizar críticas contundentes à condução política e econômica do país e às violências cometidas pelo Estado. Na cidade de Divinópolis, Minas Gerais, não foi diferente. Contando com a presença de franciscanos da Ordem dos Frades Menores, ações diversas de resistência à ditadura foram perpetradas pelos católicos no município. Diante disso, o objetivo geral desta pesquisa é compreender a atuação dos frades de Divinópolis inserida em uma rede mais ampla de ação da Igreja Católica no período, da qual tomava dianteira a CNBB. Mais especificamente, busca-se mapear o repertório de ação mobilizado por esses franciscanos, para compará-lo com a atuação de religiosos de outras localidades, operação que permitirá demonstrar o alinhamento das práticas desses católicos e evidenciar essa atuação em rede, bem como as conexões estabelecidas a partir dela. Além disso, para delinear o papel da CNBB diante do contexto, pretende-se compreender as orientações da CNBB ao clero naquele período. Como percurso metodológico, serão analisados e confrontados alguns conjuntos de fontes como os relatórios produzidos pela comunidade de informações da ditadura militar e edições do jornal A Semana e da Revista Santa Cruz, produzidos pelos franciscanos de Divinópolis, que apontam para as práticas de resistência dos frades naquele momento. Em complemento, serão observadas entrevistas com importantes personagens locais ou nacionais pertinentes a investigação, realizadas e publicadas em trabalhos anteriores ou sites de notícias. Ademais, no que se refere aos direcionamentos da CNBB, o foco estará no Plano Pastoral de Conjunto e nas Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil que foram produzidos pela entidade durante o período de nosso recorte temporal, materiais que permitirão dizer se as práticas dos católicos críticos estavam orientadas, ou ao menos legitimadas, pela entidade. A comparação entre a atuação de religiosos de localidades diversas é permitida a partir de revisão bibliográfica e da própria análise de relatórios da vigilância. Colabora com a investigação a perspectiva dos jogos de escala que em uma escala ampliada, já apontando para os resultados, confirma que os católicos progressistas, presentes em diferentes regiões, davam apoio a pessoas perseguidas, abriam espaços sob responsabilidade da Igreja, buscavam conscientizar a população e denunciar as violências estatais. Por outro lado, em escala mais aproximada, percebe-se que essas práticas foram aplicadas conforme a necessidade de cada localidade, a depender da intensidade da presença do autoritarismo no local. Quanto a CNBB, o que se percebe é que seu discurso e diretrizes seguiam o mesmo caminho crítico, o que certamente impulsionou às bases e os setores progressistas a manterem e intensificarem suas ações de resistência.

A dissertação analisa as disputas em torno das memórias públicas acerca da escravização em Juiz de Fora (MG). A partir da assunção de que se trata de uma cidade negra, profundamente marcada pela exploração escravista, busca dimensionar como a figura de Roza Cabinda, uma escravizada que levou o fundador da cidade à justiça para obtenção da sua liberdade, vem tensionando e alargando as representações sobre as lutas negras pelo direito ao protagonismo na historiografia e na formação do Estado Nacional Brasileiro ratificando a História Pública como campo que reverbera e coaduna essas tensões. 

Esta pesquisa visa analisar a dinâmica de expansão das fronteiras a oeste da zona central mineradora em Minas Gerais na porção direita do Alto São Francisco, terras que hoje fazem parte da micro região Centro Oeste Mineiro. O período a ser analisado compreenderá o intervalo temporal 1740 até 1800. A opção por este recorte deve-se ao fato de que, neste intervalo, aconteceram importantes movimentos populacionais para estas áreas, contribuindo para formação de pequenos núcleos urbanos, resultando numa efetiva expansão territorial do poder colonial frente ao sertão.  Para a realização do trabalho proposto, visaremos correlacionar a dinâmica da expansão das fronteiras com a formação e fortalecimento dos núcleos urbanos, principalmente a vila de São Bento do Tamanduá. Neste contexto, almeja-se, como principais metas para a pesquisa, o estudo do processo de ocupação destas áreas, bem como a análise das territorialidades agrárias.

Esta dissertação tem por objetivo estudar as representações políticas das Diretas Já nos jornais
da grande imprensa impressa, no eixo mais dinâmico do país, o eixo Rio/São Paulo. Entendendo
como grande imprensa os jornais estabelecidos por longo período de tempo, com grande
tiragem, circulação, influência e participação na vida política nacional, com fins lucrativos,
(portanto também empresas). O estudo se debruçou sobre os acervos de O Globo, Jornal do
Brasil, O Estado de São Paulo e Folha de S. Paulo, cobrindo o período que vai da emergência
da proposta por eleições diretas para Presidência da República até a derrota da Emenda Dante
de Oliveira no parlamento nacional.
Trata-se de um estudo em que alguns filtros foram construídos a partir de datas e eventos, com
base em perguntas norteadoras. A partir do governo Geisel ocorre a distensão, a qual
necessitava da participação da grande imprensa enquanto balão de ensaio a dar a verdadeira
face da sociedade brasileira àquela quadra, e também enquanto canal capaz de construir um
discurso consensual padrão para a transição. Em que pese o fato de os governos Geisel e
Figueiredo esperarem que a grande imprensa cumprisse o papel de sustentar uma narrativa
oficial de transição – que se pretendia lenta, gradual e segura – os jornais, a partir da análise de
seus editoriais, enquanto canais que expressam o posicionamento de cada uma das empresas
jornalísticas, não apontam para um discurso consensual padrão. Pelo contrário, as pesquisas
apontam serem os jornais agentes políticos autônomos, e que, inclusive, se valeram da pressão
das ruas para fustigar o poder no sentido da realização da transição antes que o controle
institucional já não fosse mais capaz de fazê-lo, ameaçando o status quo. É uma situação na
qual os jornais se valem muito mais de sua posição estratégica, mediando relação entre
governantes e governados, pensando em seus interesses próprios, do que o governo
instrumentalizando os jornais. Apesar de não ter havido discurso consensual padrão, esse estudo
constata que nenhum jornal fugiu à sua origem liberal-conservadora. As ruas apoiavam uma
emenda constitucional e não uma revolução. E alinhados com uma perspectiva liberalconservadora,
de conciliação, majoritária no PMDB, os jornais jogaram um papel na
consolidação da hegemonia de uma oposição liberal-conservadora ao regime militar.

Pretendemos, por meio dessa pesquisa, estudar a representação da colonização russa da Sibéria, feita pelo inglês William Coxe. O autor era um importante membro da alta sociedade inglesa no final do século XVIII. Escreveu e publicou o livro “Relato das Descobertas Russas Entre a Ásia e a América”, no final dos anos 1780. Nessa obra se encontram diversas tendências e concepções do iluminismo escocês, um movimento intelectual e literário da época. Esse movimento perpetuava diversas noções econômicas e culturais que epistemologicamente justificavam o colonialismo e o imperialismo europeus. Trata-se, resumidamente, de um estudo por meio da obra “Relato das Descobertas Russas Entre a Ásia e a América” de como o iluminismo abordou e justificou a expansão territorial dos países europeus, principalmente o Império Britânico, durante o século XVIII.

Os meios de comunicação são parte substancial do cotidiano contemporâneo. Nossas experiências históricas coletivas e individuais são balizadas hodiernamente por uma multiplicidade de suportes midiáticos, sendo ao mesmo tempo que veiculam os acontecimentos também constroem o parâmetro narrativo de sua compreensão. Nesse sentido, é comum guiarmos nossas referências temporais a partir da forma como os meios de comunicação estabelecem relações com o passado, presente, e até mesmo o futuro.Esta pesquisa tem por finalidade descortinar essa prática por meio da análise da construção narrativa do programa Linha Direta-Justiça, levado ao ar pela TV Globo de 2003 à 2007 como uma das vertentes do programa “policialesco” Linha Direta. Para tanto, assumimos como suporte metodológico as orientações advindas do conceito de “operação midiográfica”, que busca equacionar como a narrativa jornalística lida com a dimensão e fatos do passado (SILVA, 2011). A problemática do trabalho constituiu-se na esteira do processo conhecido na contemporaneidade como “paradigma da imagem”, aspecto que implica na imperatividade do suporte televisivo para a mediação não só da realidade experienciada, mas também para a formulação de memórias e, em efeito, de identidades. O estudo pretende demonstrar a forma como o Linha Direta-Justiça buscava formular representações do passado a partir de dois eixos: o primeiro em relação à construção de uma imagem/memória do Brasil caracterizado como violento, injusto e de impunidade, acompanhando a exibição de cada episódio que compõe nosso corpus documental por meio de “crimes que marcaram o país”; e o segundo eixo, em contraposição ao primeiro, visou construir uma determinada“tradição histórica positiva” da atividade jornalística ao longo da história do Brasil, que denominamos de função social da mídia)

O presente trabalho tem como principal objetivo analisar aspectos relacionados à memória de pessoas do povoado de Caquende, em relação a sua formação enquanto região. A comunidade é localizada no município de São João del Rei. A partir do cruzamento de informações provenientes de variadas fontes como livros de notas, listas nominativas, inventários post-mortem, testamento e entrevistas, a investigação recompõe parte da história da região para o período do século XIX, focando na trajetória de uma das principais famílias da região. Examina a formação, o desenvolvimento da comunidade, adentrando até o século XX. Assim, a pesquisa visa contribuir para a reconstituição histórica da formação de comunidades as margens do Caminho Velho nas proximidades do Rio Grande.

Este trabalho tem por objetivo analisar o conteúdo sociopolítico e cultural explorado pelas crônicas de Fred Melo Paiva, para a coluna “Da Arquibancada'' no jornal Estado de Minas, entre os anos de 2011 e 2019. Para tanto, foi realizado o levantamento e a análise das 350 crônicas publicadas ao longo desse período. Posteriormente, catalogamos as crônicas por meio da categorização das suas temáticas. Ao abordar em suas crônicas as temáticas que relacionam o universo do futebol à política, o cronista em questão esboça críticas ao momento político atual, principalmente aos governos e à moral conservadora, de modo a marcar seu posicionamento progressista. As narrativas mobilizam descrições dos acontecimentos relativos ao métier futebolístico, relacionando-os às pautas políticas e às questões sociais que permeiam o cotidiano brasileiro. Apresentamos esse estudo em dois capítulos: aborda a “atleticanidade” ou a identidade do torcedor do Clube Atlético Mineiro, por meio do uso de diversas figuras de linguagem que compõem a retórica de Fred Melo Paiva. Já no segundo capítulo analisamos temas relacionados à política institucional que dão o tom das crônicas futebolísticas. Através da análise das crônicas percebemos em que medida o perfil identitário do cronista – atleticano e progressista – deixa marcas em sua produção textual e instiga o debate de temas sociais e políticos.

O presente trabalho propõe abordar a reação do clero católico ao avanço do pentecostalismo no município de Campanha – MG na década de 1950, através do jornal Voz Diocesana, veículo informativo oficial da diocese criada na cidade em 1907. O periódico que, como em suas palavras iniciais, “tinha como propósito estabelecer vínculos de união entre a cidade episcopal e as paróquias, entre o assistente diocesano e as organizações paroquiais, comunicando notícias sobre o andamento de suas atividades”; foi utilizado como instrumento de combate ao protestantismo recém-chegado na cidade, quando da criação da Assembleia de Deus em 1954. A associação realizada pela Igreja Católica se aproveita da condição política dos Estados Unidos e dos países da América Latina no contexto da Guerra Fria – que combatem o comunismo - e compara os missionários estadunidenses ao bloco vermelho, como forma de conter o avanço da denominação. Para esta investigação, realizou-se uma análise qualitativa a partir de fontes impressas do periódico, permitindo perceber sinais de intolerâncias religiosas.

Este trabalho investiga a influência das cosmovisões centro-africanas no processo de formação do candomblé nagô de nação ketu no Sudeste, desde sua fundação, no século XX, até suas transformações nas dinâmicas entre tradição e modernidade pelo século XXI. Aqui pretende-se recuperar historicamente os fatores sociais e acadêmico-teóricos que levaram ao prestígio e a visibilidade das manifestações religiosas de origem sudanesa, qual seja, nagô, em detrimento e invisibilização das práticas oriundas do complexo etnolinguistico banto, ou centro-africano. Na contramão do que se instituiu como práxis nas análises de tais manifestações, esta pesquisa se baseia na inversão do conceito de nagoização do candomblé angola, repensando as bases litúrgicas que fundamentaram e institucionalizaram a religião nagô, e dando luz ao processo aqui chamado de bantuização das práticas religiosas advindas da África Ocidental. O trabalho analisa outros aspectos correlatos, como o conceito de sincretismo, as perspectivas históricas recentes acerca do catolicismo popular negro no Brasil e os variados processos de reafricanização dos terreiros, debates indissociáveis à investigação aqui proposta. Para tal, este estudo se baseou na observação através do acompanhamento de cerimônias públicas e privadas de terreiros de candomblé, além de entrevistas de História Oral com lideranças de quatro casas, uma em cada estado do Sudeste.

Esta dissertação teve como objetivo principal analisar a narrativa da supersérie "Os Dias Eram Assim," uma produção da Rede Globo de 2017. Ambientada na cidade do Rio de Janeiro entre 1970 e 1985, a trama explora o contexto do regime ditatorial brasileiro, em particular os "anos de chumbo" e o subsequente processo de abertura política. A narrativa centra-se na história de amor entre Alice Sampaio (Sophie Charlotte) e Renato Reis (Renato Góes), cujo romance é obstaculizado pelos acontecimentos políticos desse período da história. A pesquisa foi conduzida com base na abordagem metodológica proposta por Jérôme Bourdon. Na análise, foram identificados três elementos de destaque: (i) a extensa inclusão de imagens de arquivo do telejornalismo da emissora confere à obra elementos que promovem a autenticidade, o caráter documental e, principalmente, uma noção de testemunho dos eventos do período; (ii) a personagem Natália Andrade (Mariana Lima), professora de História, foi utilizada na narrativa como símbolo de resistência, sendo torturada e eleita deputada ao final da trama. Assim, a vida da professora foi influenciada pelos eventos políticos daquele contexto, suscitando reflexões sobre a contemporaneidade da obra, com destaque para a “Comissão Nacional da Verdade” e a problemática do “Movimento da Escola Sem Partido”. Identificou-se, nesse sentido, uma conexão entre a representação do passado ditatorial e o contexto de exibição da supersérie; a narrativa enfatiza o envolvimento da sociedade civil no aparato repressor e no seu financiamento durante a ditadura militar, com destaque para o papel do empresariado da construção civil e a utilização do termo "ditadura civil-militar". Por fim, em termos contextuais, a análise focalizou a recepção de inclinação "bolsonarista" no Twitter, impulsionada pela convocação de Eduardo Bolsonaro para que seus seguidores criassem contranarrativas em resposta à trama utilizando a hashtag "#osdiasnaoeramassim," promovendo o que Napolitano (2021) chamou de "revisionismo ideológico”. Além disso, essas reações se alinham com a visão de Stuart Hall, que concebe a cultura como um campo de luta simbólica, onde diferentes grupos competem pela definição de significados e representações culturais. Nesse contexto, evidencia-se um espaço de disputas de memória, no qual tanto a Rede Globo quanto os "bolsonaristas" recorrem ao passado ditatorial, utilizando-o para promover suas agendas na contemporaneidade em que a trama foi exibida.

O presente trabalho tem como principal objeto de estudos as contribuições acadêmicas do professor e sociólogo Jessé Souza, bem como sua teoria crítica produzida no intuito de desmistificar as ideias dominantes do pensamento social brasileiro, sobretudo aquelas produzidas na década de 1930 por Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, e posteriormente continuadas e ampliadas por intelectuais como Raymundo Faoro, Roberto DaMatta, entre outros. Analisamos como Jessé identifica a existência de uma ciência e uma tradição historiográfica conservadoras na intelectualidade brasileira, responsáveis por construir uma identidade nacional ancorada no culturalismo e no patrimonialismo, estando, assim, a serviço de uma pequena elite financeira. Segundo Jessé, essas ideias totalizadoras acabam por naturalizar as desigualdades e por invisibilizar a produção e reprodução de uma ralé de subcidadãos, legitimando, por consequência, uma cultura de golpes de estado patrocinados pelas elites e pelas classes médias contra projetos políticos radicalmente transformadores, inclusivos e reformistas. Examinamos os alcances e os limites de sua teoria e investigamos as causas e as razões levantadas pelo sociólogo que explicam a recente ascensão da extrema-direita no Brasil, bem como suas contribuições teóricas para se erigir uma nova arquitetura ideológica para a esquerda no Brasil.

A presente dissertação tem como objetivo analisar a escrita biográfica de Alfredo Ellis Jr. (1896-1974), baseando-se em duas fontes principais; Um parlamentar paulista da República: subsídios para a história da República em S. Paulo e subsídios para a história econômica de São Paulo (1949) e Tenente-Coronel Francisco da Cunha Bueno: pioneiro da cafeicultura no Oeste Paulista. (1960). Buscamos compreender como a memória familiar do autor, presente nas biografias parentais do pai e do avô, se estruturam e dialogam a partir de uma construção de sentido histórico balizada em pressupostos “científicos” como o “racialismo”, o “determinismo” geográfico e o “determinismo” econômico. Por último, podemos compreender como se reatualiza a defesa do regionalismo paulista posterior a “Era Vargas”, com a derrota do projeto regionalista descentralizador da Primeira República. Constata-se uma linguagem ressentida por parte de Alfredo Ellis Jr. na escrita das biografias parentais como forma de compensar insatisfações e perdas na perspectiva do autor. Trata-se de um triplo ressentimento, em relação à ação do Estado centralizador, à consideração artificial dos estados do Norte e Nordeste e, por fim, à abolição e ação dos negros em geral, ao longo do passado e presente da Nação.   

Esta dissertação analisa as ações de resistência e episódios de repressão que se manifestaram no município de Divinópolis, localizado na região Centro-Oeste de Minas Gerais, ao longo da ditadura-civil militar (1964-1985). O estudo utilizou como ferramenta metodológica a história oral, mobilizando, em especial, os conceitos de memória e resistência. O corpus documental do trabalho é composto por entrevistas realizadas com residentes locais que tiveram algum envolvimento com os movimentos de resistência. Ainda, como fontes complementares, investigamos edições de jornais que circulavam em Divinópolis entre os anos de 1964 e 1985 com foco na análise dos periódicos “A Semana” e “Diário do Oeste”. Além disso, realizamos uma breve pesquisa em jornais de outras localidades, como o “Folha de São Paulo” e o “Correio da Manhã”, nos quais encontramos informações acerca acontecimentos ocorridos em Divinópolis. Analisamos documentos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e do Serviço Nacional de Informações (SNI) e por fim, também utilizamos fotografias do período. A análise das fontes nos permitiu observar que, embora localizada no interior, a sociedade divinopolitana não esteve alheia ao que acontecia no contexto político nacional. Em meio ao apoio que o golpe conquistou na cidade, surgiram também variadas ações que se enquadram como atos de resistência, como as greves de professores, as discussões organizadas pela União de Mulheres de Divinópolis, a abordagem crítica dos cursos ministrados pelos franciscanos nas universidades e em suas pregações das missas, a realização da semana de arte, a participação de divinopolitanos em grupos de resistência, entre outras manifestações.

Esta pesquisa apresenta as análises teóricas e práticas elaboradas pela Marcha Mundial das Mulheres em diálogo com a Sempreviva Organização Feminista, com foco na produção realizada durante a pandemia de covid-19, entre 2020 e 2021. Para tanto, foram apresentadas reflexões sobre a teoria da reprodução social, um quadro sobre a realidade do emprego feminino no Brasil, além da trajetória histórica da Marcha Mundial das Mulheres, explicando os motivos pelos quais esse movimento social se define como movimento feminista antissistêmico. A economia feminista é apresentada como principal ferramenta teórica utilizada pelo movimento para tratar das críticas ao capitalismo e propor alternativas frente ao que se denomina conflito capital-vida, sugerindo propostas a partir da sustentabilidade da vida. Esta pesquisa foi realizada a partir de fontes bibliográficas produzidas pelo movimento, com o objetivo de entender como a prática militante e as formulações teóricas foram desenvolvidas durante a crise sanitária causada pela pandemia de covid-19. 

O objetivo deste trabalho é analisar a trajetória intelectual da escritora sergipana, Alina Leite Paim, entre os anos de 1944 e 1956, período do ápice de suas ações enquanto militante do Partido Comunista do Brasil (PCB). Para tanto, utiliza-se com suporte metodológico, formulações da historiografia francesa em torno da História Intelectual, História dos Intelectuais e História do Livro e da Leitura, mobilizando conceitos e categorias de análise, como a noção de intelectual, itinerários, sociabilidades, cultura política, representações, apropriação, edições e recepção. O corpus documental da pesquisa é composto pelos quatro primeiros romances da escritora, Estrada da Liberdade (1944), Simão Dias (1949), A Sombra do Patriarca (1950) e A Hora Próxima (1955). Ainda, como fontes complementares, investiga-se os jornais, revistas e periódicos publicados entre os anos de 1944 e 1956 que envolvem a imagem e/ou colaboração da romancista. A análise das fontes, permitiu-nos refletir, intrinsecamente, a influência da cultura política comunista na produção cultural de Alina Paim, com foco nos deslocamentos ocorridos em seu fazer literário, principalmente, após seu envolvimento com processo de disseminação do realismo socialista no Brasil, através do romance A Hora Próxima, publicado pela Coleção Romances do Povo, da Editora comunista Vitória. Além disso, buscou-se identificar outras formas de ação da militante no espaço público, como por intermédio de sua participação em eventos, manifestos e abaixo-assinados, debates e polêmicas promovidos. Em virtude disso, espera-se demonstrar os motivos que nos levaram a pensá-la enquanto mulher, escritora, militante comunista e, sobretudo, como uma intelectual.

Esta pesquisa investiga a obra History of America, escrita pelo literati escocês William Robertson e publicada em 1777, analisando como o autor representa as “descobertas” e conquistas promovidas pelos espanhóis no “Novo Mundo”. O estudo observa a centralidade atribuída aos “grandes personagens” no esquema intelectual proposto pelo escocês – sobretudo às figuras de Cristóvão Colombo, Hernan Cortês e Francisco Pizarro – procurando demonstrar como Robertson utiliza a presença e a ausência de virtudes humanistas no caráter desses indivíduos para classificá-los como agentes colonizadores mais ou menos ilustrados e, portanto, mais ou menos eficientes.

Em decorrência da pandemia causada pelo SARS-COV-2, uma das mais avassaladoras da história da humanidade, o ano de 2020 se tornou um dos mais emblemáticos dos últimos séculos. Mudanças radicais no modo de vida e nas interações sociais impostas pela pandemia alteraram substancialmente as relações humanas em suas mais diferentes dimensões. No campo da educação, em diversas partes do globo, o ensino remoto foi a saída encontrada para que crianças, adolescentes e adultos pudessem dar continuidade aos seus estudos. No ensino público do estado de Minas Gerais, foi criado o Plano de Estudos Tutorados (PET) com o objetivo de que os alunos pudessem acompanhar, de forma remota, as atividades escolares. A Rede Municipal de Ensino da cidade de São Paulo também acompanhou as demandas decorrentes da pandemia e criou o Programa Trilhas de Aprendizagem, material didático utilizado pelos estudantes no período remoto. O estudo busca analisar o contexto de produção desses materiais, desde o processo de distanciamento social imposto pela pandemia causada pelo SARS-COV-2 e suas consequências, passando pelo recurso imagético utilizado nos materiais, até a abordagem simplificada dos conteúdos, fato que sinaliza para a precarização do processo de ensino e de aprendizagem. A pesquisa utiliza como parâmetro de análise a comunicação visual e o nível de simplificação de conteúdo, aplicando de forma comparativa as ferramentas de análise nos materiais selecionados. As ferramentas de análise permitiram demonstrar, nas propostas de ambos materiais, suas dificuldades, acertos e fragilidades. A predominância de abordagens com conteúdo simplificado, a baixa capacidade de comunicação visual, repetição e memorização em demasia, são constantes na análise efetuada, revelando como está o processo de ensino e aprendizagem durante a pandemia.

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a fuga de escravos e suas diferentes motivações, estratégias e possibilidades como parte integrante do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro na primeira metade do século XIX. Através da análise de sete mil anúncios de escravos fugidos publicados no periódico Diário do Rio de Janeiro, procuramos conhecer o perfil dos escravos fugidos que viviam na cidade. O lapso temporal compreende entre 1831, ano da promulgação da Lei de novembro de 1831 que tinha o objetivo de frear a importação de africanos para o Brasil, até 1850, quando a lei foi substituída pela Lei Eusébio de Queiroz, na qual efetivamente extinguiu o tráfico. Direcionamos nosso estudo para entendermos o comportamento dos escravos em fuga e as diversas táticas de inserção utilizadas por esses atores históricos em um momento crucial de suas vidas, aquele que no limite lhes permitiria romper ou negociar a sua condição de escravizado. Além da utilização dos anúncios redigidos pelos senhores de escravos, nos valemos também dos Relatórios Ministeriais da Justiça e dos anúncios da polícia carioca que envolviam cativos foragidos, descortinando as diversas e complexas estratégias de resistir dos escravos. Portanto, esta pesquisa busca discutir as possibilidades analíticas – para o universo da escravidão no Brasil – as abordagens sobre escravidão, imprensa e fugas escravas.

O estudo do futebol e da literatura já é comum em pesquisas no campo das Ciências Sociais e não é diferente na História. Assim, por meio de crônicas esportivas escritas por Roberto Drummond, durante as Copa do Mundo de 1978 e 1982 no Jornal Estado de Minas, buscamos relacionar esses campos de estudos, entendendo as cônicas produzidas pelo autor como parte de uma cultura política democrática no âmbito da crônica esportiva nacional. Utilizamos a abordagem da Nova História Política, na qual o “político” extrapola o campo do poder institucional, abarcando também uma série de práticas e representações sociais, como é o caso do futebol espetáculo. No primeiro capítulo realizou-se a análise das crônicas como fontes de pesquisa histórica, e também a contextualização da biografia intelectual de Drummond. O segundo capítulo é dedicado ao contexto da ditadura Argentina, sede da Copa do Mundo de 1978, e às crônicas de Drummond sobre o torneio. Por fim, o terceiro capítulo traz a análise das crônicas da Copa do Mundo de 1982. O cotejamento das fontes evidencia que o autor confere continuidade a alguns temas recorrentes abordados por ele no mundial anterior. Em síntese, o conjunto de análises sugere que as crônicas produzidas por Drummond revelam seu estilo popularesco, recheado de coloquialidades, com a ideia de que a Seleção Brasileira de futebol representaria todo o povo brasileiro, por meio do talento, criatividade e genialidade que, em certa medida, alimenta a tradição deixada por cronistas como Mário Filho e Nelson Rodrigues.

O presente Trabalho objetiva explicitar um processo de distinção entre os domínios filosófico e teológico por meio da discussão do problema da eternidade do mundo em Boécio de Dácia. Mestre em Artes na Universidade de Paris durante o século XIII, Boécio era leitor de Aristóteles e estava comentando um problema advindo da Filosofia Natural, cujo corpus chegava na Europa cristã latina entre os séculos XII e XIII. Para tanto, foi necessário compreender a historicidade dessa discussão filosófica, perpassando pelas concepções tradicionalmente fundamentadas pela Sabedoria cristã até o desenvolvimento do Aristotelismo e da especialização dos saberes, analisando de que maneira concepções filosóficas distintas foram recebidas e reconfiguradas dentro da cultura cristã, reunindo elementos desenvolvidos filosoficamente que formavam um novo entendimento intelectual. Assim sendo, a identidade de “filósofo” era filosoficamente discutida por Boécio de Dácia, de modo a legitimar a sua posição dentro de uma cultura predominantemente criacionista e teológica. 

A presente pesquisa tem por objetivo compreender a ação do Santo Ofício em Minas Gerais, já nos anos finais de atuação da Inquisição, a partir da colaboração dos “agentes da fé” não habilitados nos quadros institucionais do Tribunal de Lisboa. Para tanto, recorreremos à análise de um estudo de caso sobre o padre João Luiz de Sousa Saião, que, nos anos finais do século XVIII e início do XIX, se destacou nessa função. Realizou 167 denúncias para o Tribunal Inquisitorial, sendo a maioria sobre moradores de Minas. Ele se mostrou um eficiente colaborador do Santo Ofício, sobretudo no que diz respeito às denúncias, sem ser, de fato, um agente habilitado pela Inquisição. Natural de Vila Rica, Saião estudou direito canônico na Universidade de Coimbra. Ao retornar para Minas, por decreto régio, ocupou logo a cadeira de tesoureiro-mor do Cabido de Mariana, um dos cargos mais altos dentro da instituição. Foi nesse momento que a trajetória de Saião cruzou com a Inquisição portuguesa. Após entrar para o cabido diocesano, sendo parte da alta hierarquia eclesiástica do Bispado de Minas Gerais, nosso personagem iniciou uma série de delações ao Santo Ofício. A colaboração voluntária de Saião se expressou de forma singular, num momento muito particular da história da Inquisição, que já havia passado pelas reformas pombalinas e caminhava para o seu fim. Mesmo que as denúncias não tenham finalizado em processos, são muito significativas para pensarmos na atuação e enraizamento do Tribunal do Santo Ofício na América portuguesa.

Esta dissertação é um estudo sobre as representações da luta armada no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973. Com ênfase no período da ditadura civil- militar busca-se compreender as possibilidades de veiculação sobre a luta armada contra a ditadura instaurada no Brasil em 1964, através de um dos periódicos mais importantes da grande imprensa carioca, além de identificar e discutir as abordagens e discursos produzidos pelo Jornal do Brasil diante do tema. Partindo desses pressupostos, essa pesquisa vai de encontro aos estudos relacionados ao papel da grande imprensa brasileira durante o governo autoritário, neste caso, por meio das representações produzidas sobre a luta armada e da influência sobre opinião pública acerca da oposição à ditadura civil-militar brasileira.

A pesquisa aqui desenvolvida tem como tema a análise da elaboração teórica e da atuação política de Angela Davis, articulando as relações entre ambas na visão da autora para pensar as possibilidades de emancipação social. O objetivo principal desta dissertação é examinar suas principais obras, mostrando as contribuições teóricas dadas pela autora para o debate sobre as desigualdades sociais, a crítica do capitalismo e os desafios e potencialidades do feminismo, levando em consideração os contextos sócio-histórico e acadêmico que influenciaram sua produção bibliográfica.

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RESUMO

A presente pesquisa tem o intuito de analisar uma seleção de animações norte-americanas e soviéticas produzidas respectivamente pelos estúdios Hanna-Barbera e Soyuzmultfilm durante os anos de 1963 e 1967. O trabalho tenta compreender duas relações fundamentais: a dinâmica entre o corpo documental e o contexto desse momento específico da Guerra Fria e as relações discursivas entre as próprias animações. Entre as animações soviéticas foram selecionadas as obras “Senhor Twister” (1963), “O Milionário” (1963), “O Acionista”(1963), “Uma Pedra Quente” (1965), “Um Pequeno Navio Orgulhoso”(1966) e “Profetas e Lições” (1967). Enquanto do estúdio norte-americano os episódios analisados foram da primeira temporada da série animada Jonny Quest:“O Mistério dos Homens-Lagartos”, “O Foguete Desaparecido”, “Tesouro do Templo”, “Os Pigmeus”, “África Misteriosa”, “Lagoa Envenenada”.A base teórica e metodológica da pesquisa teve como principais referências a análise de conteúdo de Laurence Bardin e a obra de Pierre Bourdieu. As temáticas encontradas, tanto nas questões sociais quanto nas propagandísticas abordadas nesses produtos midiáticos estiveram em destaque no contexto da década de 1960. O racismo, o feminismo, a corrida espacial, o capitalismo e a expansão do comunismo pelo mundo foram observados e comparados entre as diferentes produções, direcionando assim o olhar para as divergências, diálogos e pontos de consonância desta seleção.

Este trabalho examina o jornal Correio Paulistano, no contexto do fim do Império no Brasil, quando o periódico passa a ser o órgão da União Conservadora na província de São Paulo. Propriedade do fazendeiro e chefe da União Conservadora paulista, Antônio da Silva Prado, de 1882 até 1888, o Correio assume lugar de destaque no cenário da imprensa nacional, promovendo um importante arsenal de opiniões nos embates com os demais grupos políticos do Império. Foram analisadas sua posição diante da escravidão e do processo imigratório no momento de intensa discussão acerca das possibilidades de transição da mão de obra no Brasil. Diretamente ligado aos interesses da ala escravagista da província, o Correio Paulistano proferiu artigos e opiniões que defendiam a manutenção dos privilégios senhoriais, incluindo a escravidão, até 1887. A partir desta data, houve uma mudança de posição. Diante dos fatores agravantes na crise da hegemonia escravista e dos desdobramentos positivos das iniciativas imigrantistas de Antônio Prado, passou a defender o fim próximo da escravidão em São Paulo, forjando a imagem “abolicionista” da folha e de seu proprietário que prevaleceria na memória posterior à abolição.

O trabalho objetiva estudar o pensamento político de Montesquieu, especialmente sua análise do Antigo Regime em França, traçando um paralelo com a decadência da República na Roma Antiga.

Tivemos como objetivo observar a presença de membros do clero como participantes na dinâmica política imperial, tendo como recorte a província de Minas Gerais entre os anos de 1833 e 1837. Os padres políticos de Minas foram selecionados a partir de sua presença na assembleia provincial de Minas Gerais, mas sua presença já se fazia notória mesmo antes. Buscamos encontrar suas origens socioeconômicas, suas atuações e suas vertentes políticas. Não nos esquecemos de suas carreiras religiosas, que naturalmente se associavam a carreira política e vice versa. As formas de atuação e de inserção foi um dos pontos de destaque, posto que para nós os padres tiveram espaço privilegiado de ação política no seio da sociedade daquele período, não somente por suas funções enquanto membro das mesas eleitorais, mas também como uma importante referência ao povo que ainda permanecia atento aos dizeres do sacerdote. Após eleitos, procuramos observar suas atuações enquanto representantes e tentamos apresentar suas tendências políticas, que naquele momento começavam a se afirmar mais claramente, levando em consideração questões que se direcionavam aos padres e as instituições entre disputas de poder.

O presente trabalho tem por objetivo analisar aspectos relacionados à memória coletiva da escravidão, a implicação de certificações oficiais sobre a formação da identidade quilombola e a importância da terra como espaço simbólico para as comunidades de remanescentes quilombolas do Jaguara e do Palmital, pertencentes ao município de Nazareno, Minas Gerais. A partir do cruzamento de informações provenientes de fontes variadas quais sejam – livros de notas, listas nominativas, inventários post-mortem, testamento e entrevistas, a investigação adentrou o período do século XIX, examinando a formação, o desenvolvimento, bem como o processo de reconhecimento como comunidades remanescentes quilombolas e implicações sobre reconhecimento da propriedade e o uso da terra nos parâmetros legais, no século XXI. Assim, a pesquisa visa a contribuir para a reconstituição histórica de ocupação e manutenção da terra por comunidades negras que lutam pela sua identidade.

Esta dissertação de mestrado é resultado de nossa investigação sobre os sentidos de honra compartilhados entre os habitantes, sobremaneira as mulheres, do oeste mineiro oitocentista. Por meio de processos criminais do acervo do Fórum de Formiga e outras fontes históricas verificamos a mobilização de virtudes importantes à reputação pessoal que conferiam o status de honradez. Argumentos envolvendo noções de honra poderiam ser arregimentados por quem buscava a justiça para reparar uma injúria feita ao seu nome. Também por qualquer um, envolvido em algum crime, que desejasse transparecer honorabilidade perante as autoridades. A demonstração de honra na justiça era parte importante da defesa. Pois, poderia implicar nas decisões sobre o caso. Por outro lado, acusar a infâmia, ou vergonha, do oponente era forma de demonstrar superioridade de valores. Nossas abordagens tiveram como recorte a região de Formiga, oeste da província de Minas Gerais, entre as décadas de 1820 a 1870, e objetivamos descobrir as virtudes que conformavam a honra das mulheres de camadas sociais populares.

Nossa dissertação partiu de um oratório em madeira exposto no Museu de Arte Sacra de São João del-Rei-MG (MAS-SJDR). Nele encontramos uma pintura panorâmica da paisagem da Vila de São João del-Rei no século XIX e dois conjuntos escultóricos. No primeiro conjunto encontramos a Fuga para o Egito e no segundo um casal com um tocador de flautas e uma moça que parece o ouvir. O objetivo dessa pesquisa foi o de promover um estudo iconográfico da obra de arte analisando a pintura e as esculturas presentes no objeto mencionado. Para tanto dividimos nosso trabalho em quatro capítulos, sendo o primeiro relativo a análise da função de nosso objeto, o segundo a análise da iconografia da Fuga para o Egito na história da arte, o terceiro sobre as pinturas de paisagens no mundo e no Brasil e por fim, o quarto capítulo sobre a vida e obras de Venâncio José do Espírito Santo.

Esta dissertação tem como objeto de estudo os mercados de terras e escravos no Distrito da Lage, na segunda metade do século XIX. A partir de articulações sociais, políticas e econômicas utilizadas pelos principais fazendeiros da região, que mantinham as melhores posses de terras e as maiores escravarias. Por meio de estratégias importantes que asseguravam o controle da propriedade da terra, construção e manutenção da riqueza familiar que estava associada ao poder e prestígio dessas famílias, e da reprodução do sistema escravista, esses grandes fazendeiros da Lage se destacaram na dinâmica econômica do mercado e na política. Assim, a partir do estudo das alianças construídas pelos membros da elite local e suas famílias, procuramos descortinar as estratégias utilizadas pelos mesmos, para manutenção da riqueza, prestígio e o funcionamento do mercado de terras e escravos no Distrito da Lage, dando destaque aos elementos econômicos e sociais nessa sociedade arraigada a escravidão.

Os oratórios domésticos de caráter devocional manufaturados em Minas Gerais nos séculos XVIII
e XIX, embora se configurem como elementos distintivos da cultura religiosa mineira, ainda não
foram estudados sob a ótica de conjunto. Objetos pertencentes à classe do mobiliário com função
religiosa, os oratórios domésticos em Minas Gerais ainda permanecem figurados como obras
menores e carecem de uma atenção especial da historiografia da arte brasileira, que se volta
especialmente para os grandes monumentos. O presente estudo visa trazer à luz, sob o ponto de
vista da História da Arte, os elementos formais constitutivos dos oratórios domésticos em Minas,
a saber: a conjunção do vocabulário retabulístico com a miniaturização das formas e a integração
das expressões da arquitetura, pintura e escultura que formam o oratório doméstico como uma
“obra de arte total”. Nesse sentido, esta pesquisa visa compreender (num primeiro momento) o
oratório doméstico numa perspectiva histórica, onde buscamos entende-lo em consonância com a
história da vida privada e a história da religiosidade católica, assim como compreender (num
segundo momento) o desenvolvimento dos oratórios domésticos na Europa a fim de estabelecer
os modelos formais (que aqui chamamos de antecedentes europeus) que se fizeram representar nos
oratórios mineiros, possibilitando o entendimento da adequação das formas estrangeiras e o seu
desenvolvimento local. Por último, esta pesquisa busca compreender as representações
iconográficas cultuadas nos oratórios domésticos em Minas, a fim de identificar as predominâncias
iconográficas e as representações do hagiológico cristão como elementos constitutivos da
religiosidade privada e doméstica no Setecentos e Oitocentos mineiro.

O objetivo deste trabalho é analisar processos criminais envolvendo ex-escravas, em Oliveira, Minas Gerais, no período de 1890 a 1905. A partir das informações contidas nos processos e de uma bibliografia específica, pretende-se entender melhor quem eram essas mulheres e como seus casos foram interpelados pela Justiça. Além disto, será analisada a questão das designações sociorraciais e como estas funcionavam no imediato pós-abolição no município e nos seios sociais dessas mulheres. Por meio de fontes impressas, ainda serão investigados os discursos sobre a virada para o pós-emancipação em Oliveira, no intuito de compreender melhor como este contexto se configurou na região. A pesquisa centra-se, principalmente, nas trajetórias empreendidas pelas ex-cativas no pós-abolição, tentando colaborar, mesmo que minimamente, para os atuais debates sobre história, racialização, gênero e direitos humanos da atualidade. O trabalho tenta seguir os caminhos da atual historiografia brasileira, encaixando-se nos estudos mais recentes sobre o pós-abolição.

Esta dissertação analisa a oferta comercial de espetáculos de circos oferecidos por grupos ambulantes na cidade de Oliveira, Minas Gerais, entre os anos de 1888 e 1920. Mais especificamente, buscou-se compreender de que maneira a inauguração de uma estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas, na cidade de Oliveira, impactou nas possibilidades de transporte, e por consequência, na perenidade dos diferentes grupos circenses que visitaram a cidade. Em tais circunstâncias, o estudo teve como interesse três questões centrais. Primeira, quais e quantas companhias artísticas visitaram a cidade no período em questão. Segunda, a contribuição da ferrovia para um deslocamento mais rápido, barato e seguro. Terceira, as transformações dos repertórios artísticas com a adoção do novo meio de transporte. Foram utilizadas como fonte principal de pesquisa, um conjunto de periódicos que circularam em Oliveira no período de transição entre os séculos XIX e XX, além de documentos produzidos pelos órgãos públicos e trabalhos de memorialistas. Nessa direção, o trabalho busca contribuir para o aprofundamento das análises sobre o circo, situando-o como um fenômeno privilegiado para a compreensão da vida social do interior de Minas no início do século passado.

O pecado indigno de ser nomeado: delito inquisitorial de sodomia nas Minas Gerais (1700-1821)

As memórias do diplomata Luís da Cunha: um relato do jogo de forças no Congresso de Utrecht (1712-1715)

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O objetivo central deste trabalho é entender as motivações que permearam a criação do Album de vistas locaes e das obras projectadas para a edificação da nova cidade. Para alcançar tal objetivo, primeiramente se buscou reconstruir a história desse impresso, de modo a relacionar sua publicação a outras iniciativas análogas desenvolvidas durante a segunda metade do século XIX. Posteriormente, analisam-se as relações entre as imagens vinculadas na obra citada acima e uma tentativa consciente de criar uma determinada narrativa de memória acerca da edificação da nova capital do estado de Minas Gerais. Por fim, esta pesquisa intenta, ainda, identificar as representações de modernidade e de progresso civilizacional contidas nas fotografias dos inúmeros projetos arquitetônicos e urbanísticos criados para compor a primeira cidade planejada da história do Brasil.

RESUMO
Esta dissertação trata dos aspectos intrínsecos à formação intelectual-filosófica da Europa
Medieval Latinófono no contexto da Universidade do séculoXIII. Para concretizar esta
análise usamos do conceito filosófico de “individuo singular” (individuum singularis)
expressos no frade franciscano João Duns Scotus (c.1266-1308). Mudanças significativas no
campo da educação medieval e, por conseqüência, na filosofia, traduzem transformações na
percepção filosófica do que é um indivíduo em sua singularidade. Tais transformações se
deram pela entrada de novos textos da filosofia helênica, em especial, Aristóteles e da falsafa
muçulmana. Assim, entre as Universidades de Paris e Oxford, Duns Scotus (Doctor Subtilis)
usou das leituras disponíveis para a formação do conceito de indivíduoem sua singularidade
diferenciando dos seus antecessores. Basicamente, pela filosofia de cunho aristotélico,
indivíduos são formados quando descendem das categorias (gêneros, espécies e indivíduos).
Portanto, os últimos indivíduos eram considerados como efeito da divisão das espécies. Por
outro lado, João Duns Scotus viuque existe algo que excede às relações específicas para a
formação do “indivíduo singular”. Para desenvolver essa perspectiva, Scotus parte de três
eixos: a) a essência não compartilhada, logo é por si; b) a formação da inteligibilidade
intelectual (specie intelligibile) na dualidade universal e singular e c) que no princípio da
positivação está contido na individuação dos seres. A partir destes três aspectos, o Doctor
Subtilisdesenvolveu a perspectiva de “indivíduo singular” por si, último, além das espécies
(ultra speciem), positivo (contra os platônicos) e que nada mais pode ser dito além da própria
singularização contida no indivíduo.

PartindodaimagempresentenoforrodanavedaigrejadeNossaSenhoradasMercês dosPretosCrioulosdaantigaViladeSãoJosé,hojeTiradentes,nossadissertaçãotem comofinalidadecompreenderaiconologiaeiconografiadaobradeManoelVictorde Jesus. Paracompreendermos a iconologia,nosso trabalhofoi dividido em três partes:Os filhosdaMercêscrioula,quetrabalhaaIrmandadeencomendantedaobradoforro,ade NossaSenhoradasMercês;UmJesusesquecido,quevoltasuasanálisesparaoartista ManoelVictordeJesuseasrelaçõesdeencomendaeaúltimaparteintituladaSobo mantocrioulo,queabordajustamenteaanáliseiconográficadaobrapictóricapresente nointeriorda igrejadeNossaSenhoradasMercêsdosPretosCrioulosentreosanosde1793-1824.

A criação do cargo de juiz de paz pela Lei de 15 de outubro de 1827 (o cargo já estava previsto na Constituição de 1824) fora o ponto nodal da reforma da estrutura judiciária empreendida pelos liberais entre o final do Primeiro Império e a Regência. E, por sua vez, a reforma judiciária fora o ponto nodal da construção do novo Estado. Esta dissertação é um estudo das práticas desse agente público na sociabilidade do liberalismo moderado, no Termos de São João del-Rei, Comarca do Rio das Mortes, entre 1827 e 1834. Para tal, parte-se de conceitos que buscam uma relação dialética entre Sociedade e Estado, portanto, defende-se que a construção do Estado e da Sociedade brasileiros na primeira metade do século XIX foram resultados de processos concomitantes e de uma diversidade de projetos. Assim, conceitos de elites, hegemonia e direção moral são de fundamental importância para compreender o papel dos juízes de paz desse período. O recorte temporal é de 1827, ano da aprovação da Lei que criou o cargo de juiz de paz, a 1842 e abrange um período marcado pelas reformas liberais e pelo Regresso. É um período também de ampliação dos espaços públicos, particularmente dos periódicos, onde os confrontos de projetos eram acirrados. As fontes usadas são os periódicos Astro de Minas e O Universal e os documentos da Câmara Municipal de São João del-Rei. A partir desse material buscou-se compreender o papel dos juízes de paz como parte importante no projeto liberal moderado. Os inventários e as listas nominativas também foram fundamentais para a construção do perfil socioeconômico dos eleitos juízes de paz. 

Esta dissertação investiga como a música foi uma atividade que possibilitou o reconhecimento e/ou ascensão social para muitos mulatos e negros em São João del-Rei no século XIX. A música seria uma das formas de possibilitar uma inserção social favorável aos negros e mulatos naquela sociedade escravista e parte de uma estratégia consciente adotada por esses indivíduos e algumas famílias com o objetivo de se inserirem na boa sociedade. Utilizamos como fonte de pesquisa os periódicos, bem como os acervos eclesiásticos e de irmandades leigas, fontes cartoriais e os escritos de memorialistas, atentando para a identificação dos compositores e componentes das orquestras Lyra Sanjoanense e Ribeiro Bastos, e da constituição de suas redes de sociabilidades na São João del-Rei oitocentista.

“Clube da Esquina” é como ficou conhecido um grupo de artistas, em sua maioria mineiros, dentre eles: Milton Nascimento, Wagner Tiso, os irmãos Márcio e Lô Borges, Beto Guedes, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Toninho Horta, etc. Na década de 1970, o Clube ganhou reconhecimento nacional e internacional ao trazer, para o grande público, conteúdos estético-ideológicos que, por meio de novos processos de hibridação, combinavam música brasileira e estrangeira. Herdeiros do romantismo revolucionário da década de1960 e seu movimento de “ida ao povo”, Milton e o Clube fizeram da mineiridade uma personificação do romantismo. No entanto, ao mesmo tempo em que questionavam a modernidade capitalista, eles não deixavam de dialogar com alguns de seus elementos, propondo uma nova articulação entre o local e o global, o que lhes permitiria afirmar: “Sou do mundo, sou Minas Gerais”.