POR UMA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA QUE LIBERTA: gênero e sexualidade na formação de professoras e professores
Currículo. Diversidade. Formação de professoras e professores de Matemática. Gênero. Sexualidade
Enquanto professoras e professores que ensinam matemática, como contribuir para a desnaturalização de práticas, discursos e comportamentos que (re)produzem desigualdades no campo do gênero e da sexualidade? Como fazer das salas de aula de matemática espaços de problematização e discussão, de coletividade e solidariedade? Como desassociá-lo da dureza, da rigidez, do “masculino”? Afinal, seria possível pensar em uma matemática “no feminino”, que não reforce padrões heteronormativos impostos, ou problematizá-la fora do binarismo de gênero e de todas os atributos que foram naturalizados como sendo do feminino ou do masculino? É nesse sentido que, a partir de questões como essas, propomos uma análise e discussão do processo de formação de professoras e professores que ensinam matemática, na tentativa de analisar pressupostos, realidades e discursos sobre homens, mulheres e matemática, ao que diz respeito às discussões do campo do gênero e da sexualidade, já que, na maioria das vezes, o trabalho docente é o destino dessa formação. Buscamos, ao analisar práticas educativas, na formação docente e as relações entre os sujeitos (alunas, alunos, professoras, professores) e matemática, identificar, apresentar e analisar “verdades” que acabam produzindo realidades sobre mulheres, homens e matemática, sustentando opressões e exclusões no campo do gênero e da sexualidade. Além disso, buscamos conhecer – quando se fazem presentes – concepções e modos de abordar e discutir questões relacionadas à gênero e sexualidade, uma vez que, questões como essas, incorporam os textos das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) (2015) das licenciaturas. A metodologia volta-se para a análise de documentos curriculares e realização de um grupo focal com licenciandas e licenciandos do curso de licenciatura em Matemática em uma universidade pública mineira. Partindo das DCN das licenciaturas, os currículos deveriam contemplar questões relativas à gênero e sexualidade, visando a alguns objetivos, como o respeito, a tolerância, o reconhecimento, a valorização da diversidade e a promoção da diferença. Os documentos curriculares analisados apontam que questões de gênero e sexualidade são retratadas de forma periférica nos currículos, mas que, ainda assim, reproduzem os textos das DCN, o que implica na superficialidade do tratamento também pelas diretrizes. Reconhecemos que, ainda que periférica e superficial, a presença de termos como “direitos humanos”, “sexualidade”, “gênero”, “diversidade”, e “discriminação/preconceito”, nas DCN e em alguns Projetos Político Pedagógicos (PPCs) de licenciaturas são sinalizações importantes e de grande contribuição para a luta por uma educação e sociedade menos excludentes, desiguais e opressoras. Enquanto alguns cursos de licenciatura trazem o debate das temáticas numa perspectiva de superação de exclusões, respeito e promoção das diferenças, outros deixam um vasto e silencioso vazio – como é o caso do curso de Matemática. Acreditamos que um caminho para se chegar a uma Educação Matemática libertadora e democrática, pode estar na elaboração de planos de ações que focalizem essas questões, a fim de contribuir para a desestabilização de “verdades” e realidades sobre homens, mulheres e matemática, e que o processo de formação da professora e do professor que ensinam matemática é um espaço propício para um movimento de repensar tais questões.