O TRABALHO NA UNIVERSIDADE: um estudo sobre a saúde do docente na Universidade Federal de São João del-Rei".
Educação, Universidade, Trabalho Docente, Saúde do Professor e da Professora, Saúde e Trabalho.
O cenário do trabalho vem passando por modificações significativas e a flexibilização
imposta pelo novo capitalismo interfere na vida profissional de muitos trabalhadores. Para os
professores e professoras, não é diferente. No caso dos docentes do ensino superior público
federal, a atuação no ensino, pesquisa, extensão e gestão acadêmica, a contratação para
dedicação exclusiva e outras condições e arranjos do trabalho conformam processos e
organizações intensas e horas extensas de trabalho. A partir desse cenário e das leituras de
Sennett (2010), Antunes (2009), Codo (1999), Clot (2006), Mancebo (2007) e Tardif (2014),
entre outros autores e autoras, compartilham a perspectiva teórica que discorre sobre o
cenário do trabalho, suas mudanças e como esse contexto alcançou o trabalho dos docentes
na universidade e oportunizou riscos a sua saúde. Nesse sentido, esta pesquisa versa sobre a
saúde do docente no ensino superior. A pesquisa segue a abordagem qualitativa e foi
realizada com a colaboração dos docentes da Universidade Federal de São João del-Rei
(UFSJ). O estudo teve como objetivo investigar a saúde do docente universitário
considerando seu ambiente de trabalho, aqui especificamente o contexto da UFSJ. Nessa
perspectiva, usamos a pesquisa documental para analisar a história da instituição
universitária, sua expansão e sua proposta de atenção à saúde de seus servidores bem como
recorremos ao questionário on-line para levantamento dos adoecimentos e afastamentos dos
docentes e suas percepções acerca da geração de riscos à sua saúde no ambiente de trabalho.
Os dados foram organizados a partir de temas semelhantes, que foram compilados em
categorias empíricas, além da construção de gráficos e tabelas, as quais facilitam a
observação das informações. O estudo aponta que o crescimento institucional acelerado
caminhou em descompasso com a estrutura e condições de trabalho na universidade
indicando aspectos frágeis e precários na organização e processos de trabalhos na
universidade. Notamos, ainda, que a maior parte dos casos de adoecimentos não gera
afastamentos e o sistema de apoio ao servidor não registra nem acompanha docentes e
técnicos-administrativos de modo a considerar as especificidades de cada trabalho. O
ambiente de trabalho, em suas condições tanto físicas quanto das relações profissionais,
indica sofrimentos, adoecimentos e persistência do docente, que resiste doente no trabalho.
Os resultados indicam que a intensificação do trabalho docente gerada pela expansão da
UFSJ somada à flexibilidade do trabalho contemporâneo e multitarefas/polivalente colocadas
na educação pelo capitalismo, no ambiente institucional universitário estudado, oferecem
riscos para a saúde do trabalhador docente, que convive com a sobrecarga, o estresse e outros
sofrimentos e adoecimentos. Desse modo, o cuidado com a saúde do docente universitário
exige uma compreensão complexa de aspectos macroestruturais e micropolíticos dos
processos de trabalho no contexto da educação brasileira para nos aproximarmos dos nexos
causais entre saúde e trabalho em nossa sociedade.