ALFABETIZAÇÃO NA PANDEMIA DA COVID-19: um estudo de caso etnográfico em uma turma de 1o ano durante o Ensino Remoto.
Alfabetização, Pandemia, Covid-19, Ensino Remoto.
A presente pesquisa propõe uma investigação em torno de como ocorreu o processo de
ensino remoto em uma turma de alfabetização, da rede estadual de Minas Gerais, na cidade
de São João Del Rei, durante a pandemia. Tomamos como principais objetos de estudo as
interações que se sucederam – entre professora, famílias, alunas e alunos – e o principal
material utilizado no ensino da leitura e da escrita durante a situação de distanciamento
social causada pela ameaça do novo coronavírus – o Plano de Estudo Tutorado (PET) de
Língua Portuguesa do 1o ano. Tendo isto em vista, realizamos uma investigação de cunho
etnográfico, cuja pergunta de partida é: “Como ocorreram as interações durante a
alfabetização de uma turma de 1o ano no ensino remoto com o Plano de Estudo Tutorado
de Língua Portuguesa do 1o ano, que regeu todo esse processo no estado de Minas
Gerais?”. Para tentar encontrar respostas a essa inquietação seguimos três caminhos: (1)
revisão bibliográfica de algumas das principais perspectivas teóricas a respeito da
alfabetização e seus impactos nas políticas públicas; (2) análise documental do Plano de
Estudo Tutorado de Língua Portuguesa do 1o ano; (3) coleta de dados, através de
observações das aulas online de uma turma de primeiro ano, entrevista com a professora
da turma observada e reuniões com um grupo formado por outras professoras e
pesquisadoras que desenvolveram pesquisas semelhantes em outras turmas. Essas
professoras compartilharam com o restante do grupo relatos das experiências que
vivenciaram, bem como todo o planejamento, interações, mensagens, estratégias e
materiais utilizados nesse novo cenário. Alguns dos resultados aos quais chegamos com
essa investigação foram: os familiares representaram o grande elo das interações entre
professora e alunos; as crianças quase não apareceram no processo, cumprindo o papel
de meras receptoras do material que chegou pronto; novos meios de comunicação foram
acessados, como vídeos e o grupo de Whatsapp, mas aparecem apenas como veículos
transmissores dos conteúdos; as atividades desenvolvidas pela professora não eram
obrigatórias; segundo a professora, a turma não construiu quase nenhum aprendizado; o
PET foi recurso prioritário e obrigatório do ensino remoto; o foco da alfabetização nesse
material era nas unidades menores da língua quase sempre de maneira mecânica e
descontextualizada, indo de encontro até mesmo com as referências citadas ou apropriadas
pelo próprio material; o ensino remoto representou a educação bancária, denunciada por
Freire, em sua forma mais aguda.